Contando com um declínio ainda maior do boxe em um futuro próximo (alguém sabe quem é o atual campeão dos pesos pesados?), Gigantes de Aço surge como um ótimo entretenimento relembrando velhos clássicos da Sessão da Tarde e cumprindo muito bem a proposta na qual se propõe.
Charlie Kenton (Hugh Jackman) é um ex-boxeador frustrado e de caráter duvidoso que mantém, de certa forma, sua vida ligada aos ringues manuseando robôs em combates mortais, que em 2020 valem exorbitantes milhares de dólares a seus idealizadores. Endividado por conta de seus excessos e desleixo moral Charlie é notificado sobre a morte de sua ex-namorada que lhe deixou um filho de 11 anos, Max Kenton (Dakota Goyo), que ele nunca teve o menor interesse de conhecer.
Para ceder a guarda de Max para os tios maternos vividos por Hope Davis e James Rebhorn, Charlie enxerga a chance que precisava para conseguir dinheiro fácil, vendendo a guarda do menino, literalmente. No acordo Max teria que passar apenas dois meses sobre a tutela de seu pai para então ser adotado em definitivo pelos tios milionários. Logo na primeira cena com Charlie, na qual Max fica sabendo que teve sua guarda vendida pelo próprio pai ao invés de se abater ou culpá-lo por tal atrocidade o garoto pede naturalmente que ele divida o valor recebido, mostrando que ambos são muito mais parecidos do que inicialmente pudesse se esperar.
Vivendo com seu pai num estilo de vida sem estilo algum, Max também passa a conviver com Bailey Tallet (Evangeline Lilly), numa atuação bem discreta apesar de importante, e que mantém um relacionamento conturbado com Charlie, que por sua vez era treinado pelo pai dela no auge de sua carreira de boxeador em meados de 2007.
Suprindo a falta de cuidados do pai com uma autonomia e persistência e até conhecimentos vasto sobre lutas, Max encontra Atom num lixão, numa cena em que mostra a total falta de zelo de Charlie com seu filho. Atom é um robô lutador feito para apanhar, isso mesmo, seu protótipo é específico para treinamentos de combate e tem como ponto forte a resistência a pancadas, não sendo levado a sério devido à pequena estatura se comparado aos demais robôs, lembrando muito o dilema vivido por Seabiscuit. Estabelecendo importante papel na relação entre Charlie e Max, Atom parece inexplicavelmente entender não só os comandos de luta como também toda a situação a sua volta.
O diretor Shawn Levy, que até então havia dirigido apenas comédias familiares como Uma Noite no Museu e Uma Noite Fora de Série, tem aqui o maior desafio da carreira e também o seu maior êxito. Amparados por produtores de renome como Steven Spielberg e Robert Zemeckis, a escolha do diretor foi no mínimo curiosa devido às várias cenas de ação durante o filme, pois até então o máximo de luta que vimos em seus outros trabalhos foi a de Ben Stiller se estapeando com mico leão dentro de um museu. Mas Shawn Levy se sai surpreendentemente bem, tanto na condução dos protagonistas como nas impecáveis cenas de ação, auxiliado pelo ex-campeão Sugar Ray, não a banda, mas o ex-campeão de boxe dos pesos pesados.
E um dos inegáveis destaques do filme fica por conta das várias e competentes cenas de lutas entre os robôs, onde, diferentemente de "Transformers" na qual tem sido comparado em alguns aspectos (se tem robô lutando alguém se lembra dos filmes de Michael Bay), aqui conseguimos facilmente distinguir um robô do outro e não nos cansar em ver latas se atracando.
Mas o maior destaque do longa talvez seja a do personagem vivido por Dakota Goyo, que pode ser visto no recente "Thor". Desde o primeiro momento que apareceu em tela como Max o ator roubou a cena, mesmo tendo ao seu lado um Hugh Jackman esbanjando um carisma que lhe é habitual desta vez na pele de um pai sacana. É necessário ressaltar também a habilidade com que Shawn conduz a atuação de Goyo que facilmente poderia ter se tornado insuportável pela teimosia de seu personagem, mas que aqui não só nos soa agradável com toda acides de suas piadas como nos cativa até mesmo quando arrisca passos de danças imitadas por Atom no início das lutas, que nos remete ao detestável Justin Bieber.
Contando com elementos que irão agradar a pessoas de todas as idades o filme fará com que muitos se recordem do velho Rocky Balboa, principalmente no combate final entre Atom e Zeus, numa clara e gritante referência a Rocky e Drago. Tal referência se baseia tanto no desenrolar de todo o combate como também no fato de a torcida que antes gritava contra passar a jogar a favor do protagonista, como ocorrera em Rocky IV. Atom nos remete também a "Seabiscuit", que assim como o cavalo tem menor porte que seus adversários e ambos não tinham a menor utilidade prática, até que alguém conseguisse sabe-se lá porque enxergar certo potencial neles. Com várias referências já descritas uma que não poderia deixar passar é a de “Falcão – O Campeão dos Campeões” por duas questões: a primeira se deve as circunstâncias adversas onde pai e filho que mal se conhecem são obrigados a conviver, e a outra quanto à forma de vida escolhida pelos personagens de Jackman a Stallone, que vivem em estradas a bordo de um caminhão, um disputando quedas de braços e o outro transportando robôs lutadores pelo país.
Referências a parte o filme peca apenas pela quantidade de clichês e pela obviedade do roteiro (é fácil saber no que aquilo tudo iria dar), mas é altamente satisfatório que ainda assim o filme consiga se sobressair dentro do gênero e se tornar uma das obras mais divertidas e agradáveis de 2011. Vale o ingresso e a pipoca, fácil.
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