“You can’t get to 500 million friends without make a few enemies”, com essa frase e um trailer dramático, o buzz sobre o novo filme de David Fincher tomou proporções gigantescas. Eis que Fincher não decepcionou. Tomando mais uma vez para si a missão de fazer o retrato de uma geração (a qual já havia completado de forma perfeita em seu melhor filme, Clube da Luta), o diretor nos traz uma obra de peso sobre o homem moderno e suas ambições de poder, sobre homens que guerreiam não mais com os punhos ou armas, mas com os aparatos da tecnologia e da justiça penal.
O roteiro se baseia no livro “The Accidental Billionaires”, e conta a história de como o estudante de Harvard, Mark Zuckerberg apoiado financeiramente por seu amigo Eduardo Saverin, veio a criar o site que viria a virar febre por todo o mundo, o Facebook, e em poucos anos se tornou um dos homens mais ricos do mundo. Alternando a narrativa da história a cenas dos depoimentos contidos nos processos contra Mark, temos a impressão de que o filme de certa forma quer nos levar aquela sala onde que Mark é interrogado e os fatos são expostos, como se estivéssemos sentados, prontos a defender ou atacar o personagem.
E Mark se mostra um personagem interessante ao decorrer do filme, é, como o Edward Norton sem nome de Clube da Luta, um alguém confuso, com dificuldades de relacionamento, talvez inseguro. O estado de Mark se evidencia no começo do filme, nas cenas em que bêbado acaba ofendendo de forma grosseira sua ex em um blog e criando um site que acaba levando a baixo a rede da escola. Assim como o outro protagonista, ele busca sua válvula de escape e a encontra na idéia do Facebook. Entrega-se totalmente a expansão do negócio, o que fica visível em uma cena em que descobrimos que ele passara mais de 24 horas seguidas trabalhando. Porém essa entrega e ambição acabam por afastá-lo cada vez mais das pessoas, e a ser manipulado. Se em Clube da Luta tínhamos Tyler, aqui é na figura de Sean Parker que se encontra esse elemento manipulador. Parker é de certa forma tudo que Mark queria ser: se dá bem com as mulheres, é extrovertido e teve sucesso.
Porém, não é só na figura de Mark que o filme se apóia. O personagem de Eduardo cresce muito, principalmente na segunda metade do filme. Retratado como amigo fiel e mais centrado que Mark, desde o começo acompanhamos a amizade dos dois, porém também sabemos que ele está processando Mark, e cria-se assim o curiosidade de saber o que levou a esse desentendimento. E o filme ainda nos brinda com boas atuações de atores jovens(Jesse Eisenberg, porém, foi superestimado, visto que este está apenas correto).
A Rede Social possui uma parte técnica extremamente digna também. A fotografia do filme é bela, e nos remete também a Clube da Luta, talvez pela presença do diretor de fotografia do mesmo, Jeff Cronenweth. Os tons escuros, e o destaque aos tons amarelos em algumas cenas estão novamente presentes, principalmente nas cenas noturnas ou em ambientes fechados, mas dessa vez mais suavizados que em Clube da Luta, talvez até pelo tom do filme ser diferente. Há também a belíssima cena da corrida, com seu tom nublado.
Além disso, Fincher soube conduzir o filme com o timing certo, a história prende a atenção do início ao fim. Um exemplo desse timing é na cena em que Mark está fazendo o site bêbado, por intermédio da trilha e de uma montagem excelente, o diretor faz o trabalho do programador, nas palavras do próprio roteirista Aaron Sorkin, parecer um roubo de banco. E citando a trilha, Fincher mostra ter realmente o talento de unir a imagem a música perfeitamente, repetindo o feito do genial encerramento de Clube da Luta com o encerramento deste filme, porém dessa vez usando de uma ironia pura ao som de Beatles.
Apesar de tudo a genialidade no roteiro e condução, A Rede Social não é perfeito. É um filme divertido e inteligente, porém, é um filme frio. Faltou novamente a energia e o carisma que o cineasta passou para a tela em Clube da Luta. Fosse apenas esse detalhe, e teria se concebido novamente uma obra completa.
Ainda sim, apesar de certo exagero, A Rede Social merece todo o buzz e todos os prêmios que vem conquistando. Os personagens na tela novamente refletem a nós mesmos, e ao final da experiência, saímos com um sorriso no rosto. Palmas a David Fincher em sua melhor forma.
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