"Querida Wendy. Escrevo para lhe contar nossa história tal como eu a vivi. Não tive coragem de te contar isso enquanto estávamos juntos. Talvez tivesse sido diferente se tivesse falado."
É assim que começa esse interessantissimo filme de Thomas Vinterberg, filmado a partir do roteiro do aclamado Lars Von Trier. Confesso antes de escrever essa crítica, que é minha primeira experiência com o trabalho de ambos, mas ao mesmo tempo devo dizer que não me decepcionei.
"Dear Wendy" se passa em uma pequena cidade sem nome dos Estados Unidos, cuja extensão parece se resumir a uma praça e duas minas, mostradas num pequeno mapa diversas vezes no filme. É nesse lugar que conhecemos logo de cara Richard, conhecido por "Dick", filho de um mineiro, mas por sua natureza frágil e mente fértil, não demonstra mínima vontade de trabalhar na mina. Sendo assim, Dick acaba sendo marginalizado em sua cidade. Com a ajuda de Clarabelle, a empregada de sua casa, consegue emprego em um pequeno mercado, cujo dono tem fobia de assaltos. Diante de sua existência sem sentido e sem perspectivas, por acaso do destino Dick, um pacifista, acaba comprando uma arma de brinquedo, que mais tarde descobre ser uma arma de verdade. E passa a levar ela a todo lugar. Acaba descobrindo que Stevie, com quem trabalhava no supermercado, também possuia uma arma, mas era pacifista. Logo, começam a estudar armas e fazem da velha mina seu quartel-general, e junto a outros "fracassados" da cidade, formam um grupo de pacifistas que carregam armas, se intitulando os "Dandies". Tratando sua arma como uma pessoa com sentimentos e histórias de vida, eles criam laços extremamente fortes com suas armas, chegando a dar-lhe nomes. E é do nome da arma de Dick, Wendy, que vem o título do filme. Porém, a paz criada por eles logo é posta a prova por diversos acontecimentos.
Partindo dessa premissa bizarra, Vinterberg demontra todo sua criatividade e acidez na direção. O filme consegue não perder o ritmo conforme cresce, muito pelo contrário, vai crescendo de forma a envolver muito o espectador.
O roteiro de Von Trier não é muito realista, mas é justamente a aparência caricata com que é contada a história que dá um charme ao filme. Charme que nos leva ao ponto mais marcante do filme, o grande trunfo: a fotografia. As cores e a iluminação de "Dear Wendy" chamando muito a atenção, alternando entre claro e escuro em muitos planos, e com cores muito vivas em vários momentos. O filme é visualmente fantástico, o que compensa algumas pequenas falhas de roteiro e filmagem.
O jovem elenco do filme também chama a atenção. Todos encarnam muito bem seus papéis, sendo cada um deles muito diferentes. Também são esses personagem tão excêntricos e sua obsessão por armas criada por Von Trier que faz de "Dear Wendy" um filme tão criativo. Um ponto a se destacar são algumas das sequencias finais, as mais impressionantes visualmente e contextualmente no filme.
São alguns pequenos erros, e alguns pontos que deixam a desejar que "Dear Wendy" não consegue ser um filme maior. Porém, não tira seu mérito de ser um dos filmes mais criativos dos ultimos tempos. Esse retrato indie sobre armas, violência e sobre relações humanas, ácido e com cara de crítica, nascido da parceria Vinterberg e Von Trier não é para todos, não é tão grande, mas vale muito a pena ser visto pela sua criatividade. Recomendado.
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