Prometheus é um daqueles filmes difíceis de definir e dar nota. Por um lado, temos que foi dirigido por Ridley Scott, um grandiosíssimo nome do cinema, com obras reconhecidamente valiosas para a sétima arte, uma quase unanimidade dos admiradores das telonas, o diretor das obras-primas Alien e Blade Runner. Dessa forma, o filme chegou com um “peso” de que “provavelmente” seria muito bom, por ser dirigido pelo mestre e por ser um prequel (ou spin-off, como queira) de Alien. De fato, muita gente parece ter gostado do filme, “apesar de seus problemas”. E são esses problemas que nos levam para o outro lado.
Se em uma frente temos Ridley Scott, Alien e toda sua bagagem, em outra temos um filme com diversos problemas, que faz questionar se haveria toda essas “condescendência” com seus defeitos caso tivesse sido dirigido por outra pessoa, sendo prequel de qualquer outra obra. Sim, Prometheus tem muitos furos e inconsistências, ficando um pouco longe de ser uma obra-prima da ficção científica como Alien ou um show de filosofia como Blade Runner, apesar de ter, inicialmente, potencial para ser o que quisesse e muito mais.
Prometheus começa promissor (com o perdão do trocadilho), com um visual arrebatador, trilha sonora penetrante, bom uso de 3D e uma cena que sugeria a morte de Deus (em seu aspecto filosófico, como talvez um dia quis Nietzche, já que o criador é outro); os personagens são apresentados e parecem interessantes. A expectativa foi lá em cima, ou seja, putz, é Ridley Scott!! No entanto, de tudo isso acaba restando apenas o visual e a trilha no decorrer do filme, porque a história se mostra clichê, preguiçosa, esquemática, e os personagens fracos, unilaterais e pouco carismáticos, com exceção do androide David, de longe o mais interessante. Talvez Shaw também se salve.
David e Shaw (e ele mais que ela) têm sua força. O androide é enigmático, não deixou bem clara a sua intenção e por isso tornou-se fascinante, especialmente ao causar a contaminação de um dos integrantes da equipe para fazer experimentos. Genial! Fassbender esteve estupendo, excelente na pele do personagem. Já Elizabeth Shaw é peculiar, já que normalmente cientistas se dizem ateus. Ela é religiosa e não obstante tenha provas de que Deus não é exatamente como ela pensava (e muito menos bom e misericordioso, aparentemente), continua crente. É determinada, corajosa. Noomi Rapace esteve muito bem. A cena da cesárea, tecnicamente e por sua atuação, foi otimamente repugnante. Mas os outros personagens são fracos, mal-desenvolvidos, suas ações não se justificam muitas vezes e, assim, em nenhum momento você torce por eles.
Além disso, algumas situações soaram um pouco forçadas. Só para exemplificar:
a) O biólogo que brinca com um ser/bicho semelhante a uma cobra e acaba morrendo (bem, nem na Terra você deve brincar com esses animais...). Foi uma idiotice.
b) Shaw foge da suspensão onde deveria ser mantida em quarentena e ninguém se dá conta; ela faz uma cesárea (que é uma cirurgia grande e profunda) e depois sai correndo, salta, briga, luta, faz rapel, tudo isso limitando-se a, de vez em quando, pôr a mão na barriga para sinalizar sua (pouca) dor. Não tem adrenalina que explique isso.
c) Não havia plano de fuga (uma quase regra para os filmes de ficção científica e no programa espacial também) caso a Prometheus fosse danificada de alguma forma, já que normalmente a nave grande, que tem os suportes de alimentação, comunicação, etc, fica em órbita e os astronautas descem no planeta/lua com uso de uma nave auxiliar.
d) Toda tripulação, que não demonstrou vínculo aparente com o capitão, decide instantaneamente se matar junto com ele, como se fosse uma decisão fácil como ir a um bar.
Ou seja, foi uma série de desleixos, de furos que fizeram o roteiro parecer extremamente preguiçoso. Até mesmo a discussão filosófica ficou em último plano, algo que poderia ter se estendido, ter feito o espectador sair do cinema com a pulga atrás da orelha. Nem me refiro à discussão do porquê os nossos criadores teriam se arrependido, já que isso parece ter sido reservado para a sequência, mas à saída simplória de jogar coisas e ideias que jamais foram bem exploradas.
Reitera-se, inevitavelmente, o questionamento: tantas pessoas gostariam do filme “apesar de seus problemas” se ele não tivesse essa pré-carga Scott/Alien, considerando que os espectadores costumam ser mais críticos? Por mim, o conjunto não foi totalmente perdido por toda atmosfera criada, pelos efeitos, por David. Mas ficou muito, muito longe de ser uma obra-prima.
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