Há algo de muito errado com “A 5ª Onda”. O trailer vendia um filme de ação e ficção científica, com uma bem-arquitetada invasão de extraterrestres que desejam utilizar a Terra para algum fim inespecífico e ainda não esclarecido e, para isso, precisam eliminar todos os humanos, que obviamente atrapalhariam seus objetivos. Lançam então uma série de ataques que gradativamente minam as fontes de energia e resistência dos humanos: desligam a energia e telecomunicações, utilizam um vírus mortal, contaminam a água. O plot é interessante, tanto quanto o aclamado livro que deu origem ao filme. O problema é que a versão cinematográfica foi extremamente malconduzida e estragou uma boa ideia.
A primeira metade do filme transcorre de maneira apressada, sem dar a verdadeira noção do estrago que as “ondas” estariam causando à humanidade. Não passa à plateia o sentimento de urgência que um ataque dessas proporções sugere. Embora o livro seja escrito em primeira pessoa, entende-se que o filme não poderia (ou não deveria) restringir-se à vida de apenas uma adolescente americana para contar a história. Apesar dos ataques serem globais, como o filme mencionou algumas vezes, isso não é mostrado.
Na segunda metade, quando Cassie precisa resgatar o irmão, perde-se o foco da ficção científica e nos vemos diante de um novo “Crepúsculo”: um romance adolescente açucarado entre uma humana e um extraterrestre, que resolveu abrir mão da invasão da Terra por estar apaixonado. O interessante é que o tal ET apenas olhou Cassie de longe e já tomou essa decisão, apaixonou-se de forma fulminante a dezenas de metros de distância. Claro que os cabelos permanentemente bem escovados, limpos e as unhas sempre bem-feitas da protagonista devem ter ajudado: a falta de água e os diversos dias embrenhando-se na floresta não descascaram seu esmalte, nem desarrumaram seu cabelo.
No final, soluções esdrúxulas, sem pé-nem-cabeça, vêm aos montes. Uma adolescente sem treinamento nenhum consegue matar uma oficial graduada do exército e depois foge sem ninguém perturbá-la; o ET apaixonado arranja várias bombas potentes, ainda não se sabe de onde, para destruir todo um quartel do exército americano; um grupo de crianças desertoras do exército, que estava em outra cidade, a quilômetros de distância, surge com um carro para resgatar Cassie e seu irmão. E resta apenas um grupo de adolescentes e crianças, todos com menos de 16 anos, que são a última esperança da Terra... Além do ET saradão, que não se sabe que fim levou. Bem, pelo menos eu já sei, se essa invasão acontecer de verdade, vamos todos morrer!
A trilha sonora é nula; não há momentos de tensão de verdade. A construção do resgate do irmão, o grande trunfo do trailer, mostra-se inverossímil e grandemente fadada ao fracasso – e só não fracassa mesmo por causa das soluções fáceis, deus ex-machina, a que se recorre. As atuações também são fracas; Chloë Grace Moretz está apenas correta e Nick Robinson parece fazer uma expressão de permanente dor de barriga.
Resumindo: uma grande decepção.
Concordo totalmente com o seu comentário: em número e grau! Assisti ao filme e tive a mesma impressão que você teve. Mas o que mais me deixou em duvida foi: ele é ruim por incompetência ou por que o público alvo consome sem reclamações (e ainda recomenda, digo por experiência própria) ?
"Bem, pelo menos eu já sei, se essa invasão acontecer de verdade, vamos todos morrer!"
hahahahhaha
Péssimo filme.
Ah, Wellington, acho que os adolescentes em geral estão muito cabeças-ocas... É só ter um rostinho no filme que se derretem e perdem toda a criticidade. Acho que isso reflete a falta de leitura de bons livros, o que desenvolveria o senso crítico e o poder de interpretação. Não há problema em gostar do filme como guilty-pleasure, reconhecendo seus problemas; eu mesma acho "Crepúsculo" fofinho, mas sei que é um filme superfraco. Cinema é entretenimento, não precisa ser sempre uma obra-prima. O problema é exaltar filmes como esse como perfeitos e incriticáveis.