Violência doméstica e a transformação profunda de vida em A Verdadeira História de Tina Turner
Há muitos momentos emblemáticos sobre abuso de gênero em A Verdadeira História de Tina Turner. Afinal, relacionamentos abusivos são sobre poder e subjugação. Assim, não é surpreendente que Ike Turner, durante o divórcio, nem quisesse que a esposa mantivesse o nome pelo qual ela era conhecida. É que Tina Turner nasceu como Anna Mae Bullock e recebeu o nome artístico do ex-marido no início da relação. Mas, ao final, ela estava tão ansiosa para se ver livre de tamanho controle que desistiu de praticamente tudo no julgamento da separação. Dessa forma, ele ficou com absolutamente tudo, dos royalties de gravação aos direitos de publicação. Porém, a única coisa que a protagonista desta história verídica fez questão de ficar foi com o nome, mesmo com os protestos de Ike de que havia o sangue da família dele por trás dessa alcunha. Afinal, parece difícil para um agressor reconhecer que a construção da marca Tina Turner veio por mérito dela.
Este exemplo serve para demonstrar o porquê de A Verdadeira História de Tina Turner ser uma obra muito mais angustiante do que praticamente qualquer outra cinebiografia de celebridades, mesmo sendo também uma história de superação. Afinal, não é incomum para esses filmes evidenciar em detalhes os desafios que o artista vivencia antes de chegar à fama. Porém, ainda mais considerando a geração e o status de Tina Turner, são poucos os que parecem ter passado por momentos nesse nível de dificuldade. Assim, a obra mostra o ciúme de Ike ao talento e à popularidade da esposa e a transformação dele em um marido fisicamente e psicologicamente violento. Além disso, a acompanhamos suportando a situação por um período tão extenso de tempo que chega a ser cruel. Por sinal, o filme traz Angela Bassett e Laurence Fishburne como Ike e Tina em desempenhos arrebatadores. Enquanto Fishburne consegue transmitir tanto o charme quanto a violência de Ike Turner, Angela Bassett é impetuosa e convincente como Tina. Esse vigor se estende às cenas musicais. Afinal, ela incorpora a personalidade única de Tina Turner no palco com uma precisão impressionante.
A Verdadeira História de Tina Turner é incansável ao retratar um cenário comum da mulher vítima de um relacionamento abusivo. Ou seja, ela continua encontrando justificativas para as atitudes do marido e acredita que ele sairá deste recorte violento. Mas, felizmente, ela encontrou forças de resistência por meio de técnicas de oração budista. Aliás, há uma cena inesquecível na qual ela está prestes a fazer um show e Ike Turner surge de surpresa e a ameaça com uma arma. Este momento é impactante porque mostra toda a força interior que ela adquiriu para enfrentá-lo pacificamente e não ceder às suas chantagens. Enfim, ela consegue subir no palco e dar início a um capítulo muito mais expressivo da vida profissional. Aliás, A Verdadeira História de Tina Turner apresenta uma trilha sonora fantástica e a aparição da própria estrela biografada no final. Mas esta não é a típica biografia de uma celebridade da música. Sobretudo, trata-se de uma história de dor e coragem, que ganha uma narrativa firme e autêntica. Assim, confere um calor humano à personalidade admirável de Tina Turner.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário