Feios ecoa aquelas distopias que estiveram em alta no início da década de 2010. Foi nessa época, inclusive, o lançamento do livro em que o longa-metragem se baseia. No contexto daquele momento, havia uma profusão de filmes nesse estilo, que variam do excelente, como é o caso de Jogos Vorazes, ao completamente insosso, como em O Doador de Memórias. Porém, depois do êxito de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, é possível observar que esse tipo de crítica social ainda tem muito valor e muitas possibilidades de exploração nas telas de cinema.
O problema maior de Feios é que ele se ancora em uma nostalgia das distopias que foram sucesso dos anos 2010. E tudo que uma distopia não pode ser é anacrônica. A ideia central do filme, de que a beleza de um mundo sem conflitos é superficial e inautêntica, parecia fazer muito mais sentido naquele contexto de maior alienação e “imagens perfeitas” fabricadas para redes sociais digitais. Hoje, essas mídias também se provaram capazes de expor o pior do ser humano. Então, a reflexão precisaria ser melhor trabalhada para se atualizar ao cenário contemporâneo.
Quem dirige a obra é McG, que é um cineasta repleto de uma energia e entusiasmo muito próprios, capaz de gerar filmes memoráveis como A Babá (2016), As Panteras (2000) e a continuação As Panteras Detonando (2003). Este é um estilo peculiar e deliciosamente divertido, como pode-se perceber em seu filme mais recente, Trocados (2023). Acontece que não combina em nada com uma distopia mais reflexiva, que depende de pausas para observações e análises. Dessa forma, a opção por McG parece a escolha mais equivocada de um cineasta para um grande projeto desde que escolheram Chloe Zhao, uma diretora conhecida por seu caráter contemplativo, para comandar o filme de super-herois da Marvel Eternos (2021). Isso acaba ressoando na direção dos atores. Joey King, por exemplo, cria a protagonista genérica de uma distopia, sem nenhum brilho em meio ao misto de desespero e coragem. E nem a competente Laverne Cox consegue trazer um lado particularmente assustador à vilã da história.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário