Democracia: Um conceito ou um produto?
Alguns críticos ou intelectuais criticam o cinema latino-americano por abordar constantemente o tema da ditadura.
Não vejo qualquer entrave nisso ou uma espécie de demérito em relação às produções cinematográficas que com efervescência continuam tratando de um assunto sempre polêmico.
Será que a memória em relação aos regimes ditatoriais na América Latina é um simulacro intocável, uma “veia aberta” ou uma ferida cicatrizada.
Para além dessas discussões, o cineasta chileno Pablo Larrain a frente da película “No” buscou retratar o contexto do plebiscito realizado no Chile em 1988 na campanha do “Sí” e “No” que definiria a continuidade ou o término do governo de Pinochet.
O filme gira em torno de certa tensão psicológica sobre a questão da mudança política, o mote decorre principalmente a partir da figura do publicitário René Saavedra (Interpretado por Gael García Bernal) que passa a articular a campanha do “No”.
A produção é conduzida com muita maestria mesclando momentos divertidos, irônicos conflituosos e reflexivos.
A trama se sustenta tanto pela competência técnica quanto pelo roteiro muito bem elaborado que não se pauta no beligerante, na tortura e na violência física, pelo contrário, o argumento é altamente ousado e desafiador que vai construindo um clima envolvente em relação ao campo político, mas a possível mudança de ditadura para democracia coloca um incomodo ponto de interrogação para o espectador, o que é a democracia? Um conceito ou um produto?
Pois bem... para os que criticam muito o cinema latino-americano por sempre colocar em evidência a questão da ditadura, o filme “No” simplesmente desbanca qualquer resistência em assisti-lo por esse motivo, justamente porque o que é colocado em discussão são as estruturas nas quais foram erigidas a concepção política democrática no Chile e porque não dizer na América Latina.
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