Não pairam quaisquer dúvidas sobre a genialidade cinematográfica do diretor Woddy Allen, ao lado de Tarantino é um dos cineastas mais criativos e genuínos em atividade.
O talento de Allen é inconteste e ele realiza filmes audaciosos tecendo tramas polêmicas como “Ponto Final - Match Point (2005)”, “O Sonho de Cassandra (2007) e “Vicky Cristina Barcelona (2008)”.
Nada fácil e pouco digestivo é admirar ou ao menos reconhecer a maestria de Woddy Allen que recorre a argumentações incomuns e inusitadas colocando em xeque o verniz ético e a frágil moralidade da sociedade.
O traço mais comum, porém pouco atrativo para muitos é o humor cáustico de Allen que flerta com situações tragicômicas e absurdas rompendo com moralismos baratos e atitudes débeis relacionadas ao conceito denominado politicamente correto.
A mais recente produção do diretor exala pequenos vestígios do seu profundo sarcasmo e de sua intensa irreverência.
A película “Meia Noite Em Paris (2011)” é delineada por incomodas alfinetadas ao estilo de vida burguês e suas futilidades, mas o eixo central da narrativa é composto por uma visão mítica e nostálgica de Paris.
O longa-metragem de Woddy Allen é praticamente um conto de fadas da contemporaneidade que revela todo seu esplendor numa mirabolante viagem no tempo suscitando o glamour do famigerado período dos anos 20 denominado “Belle Époque”.
O mote da obra se desenrola em torno da figura do modesto escritor Gil Pender (Owen Wilson) um insatisfeito roteirista de filmes hollywoodianos.
O personagem Gil Pender um romântico em Paris aprecia coisas triviais como caminhar debaixo de chuva nas ruas parisienses, enquanto sua noiva acompanhada pelos pais contrasta com os ideais de Pender.
E como num autêntico conto de fadas o protagonista Gil Pender embarca numa carruagem desafiando a temporalidade mergulhando num delicioso passado se encontrando e fazendo referências a grandes personalidades como o músico Cole Porter, a escritora e feminista Gertrude Stein, ao artista impressionista Degas, ao fauvismo de Gauguin, ao intenso Hemingway, ao escultor francês cubista Braque, os escultores Rodin e Camille Claudel, ao genial Pablo Picasso, o surrealista Salvador Dalí, o precursor do muralismo Toulouse-Lautrec, ao dadaísmo de Man Ray, ao ácido cineasta Buñuel e ao pintor italiano de origem judaica Modigliani entre outras importantes menções e aparições.
“Meia Noite Em Paris” é nostálgico, tem extrema leveza, trasborda encanto e ternura fazendo o espectador se recordar às vezes da magia empreendida por Woddy Allen em “A Rosa Púrpura do Cairo (1985)”.
Esteticamente a obra não tem novidades e se prende a vários chavões, entretanto, os diálogos construídos por Allen são sempre mordazes e assertivos sobre os valores calcados na perspectiva burguesa.
O filme tem um desfecho coerente em relação à proposta relacionada a idéia de conto de fadas, mas não deixa de ser altamente clichê no seu ato conclusivo, aliás, traço atípico nesse cineasta septuagenário.
Mas a característica mais eficaz e a peculiaridade efetiva de Allen continua presente, criativa e intocável, o seu humor refinado, afiado e incomparável.
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