Infelizmente mais uma vez se faz urgente mencionar as péssimas escolhas de tradução e o filme com o titulo original Single Man foi terrivelmente traduzido como Direito de Amar o que destoa substancialmente do enredo envolvendo o protagonista da obra fílmica.
O diretor Tom Ford realizou seu début na sétima arte com o estilo longe de inovador, porém com uma competência técnica apurada aliada a uma sensibilidade irretocável.
A obra Single Man baseada no romance de Christopher Isherwood retrata a vida de um professor universitário de literatura que fica completamente assolado com a perda do seu grande amor após dezesseis anos de convivência.
O professor é o personagem George que após o trauma se sustenta na memória numa busca retrospectiva ficando intensamente imerso num colapso que dilui o seu presente.
O protagonista George é interpretado de maneira descomunal pelo ator inglês Colin Firth e ainda se faz indispensável uma nota merecida para a curta e estupenda aparição em cena de Julianne Moore.
A figura de George se desestrutura com a perda e o luto entrando numa crise que altera seu modo de agir, sua percepção, a sua atenção fica dispersa e o tempo em certos momentos parece estar congelado, isto é, inerte.
O sonho constante de afogamento que o persegue talvez represente o desejo inconsciente de suicídio, aliás, retratado numa cena impactante em que ele tenta consumar o ato, no entanto o conflito se instala e a cena se desenrola entre o cômico e o trágico.
O filme de Ford é contundente ao retratar uma relação homossexual não por um viés explícito e já ultrapassado no conceito de polêmico, mas porque tateia o sumo das relações que é o lirismo, a leveza, a sutileza de amar e o inevitável sofrer tão inerente ao ser humano.
As cenas de nudez, os beijos, as insinuações são delicadamente construídas sem cometer exageros e sem recorrer a estereótipos, os momentos de intimidade são repletos de ternura e de uma forma geral e mesmo que convencional na seqüência de cenas tudo é cuidadosamente filmado evitando exposições baratas e sem propósito.
Admite-se que a película oscila de ritmo e em alguns momentos é completamente envolvente já em outros instantes é assustadoramente morosa e incomoda, mas tudo parece confluir para a tortura psicológica e o sofrimento da figura de George e conforme ele se torna mais melancólico a iluminação também se torna mais opaca.
Nota-se que o roteiro é frágil ao propor algumas situações, entretanto, o desfecho envolvendo George num leve sopro de perspectiva se desfaz frente ao imponderável.
Pode-se avaliar que Single Man enquanto cinema traz certa nostalgia dos anos 60, o uso da vitrola, o som do vinil, o glamour das roupas e dos penteados fazendo exalar da tela uma dose de magia.
O longa de Ford é consistente, refinado e tocante e mesmo com algumas falhas é poético e merece ser visto e prestigiado.
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