30 ANOS DEPOIS: MIDNIGHT EXPRESS REVISITADO
Por Cláudio R Sauceda
Brad Davis, um jovem ator, interpreta com muita paixão, numa atuação intensa e visceral, o estudante Billy Hayes, americano apanhado com haxixe em Istambul ao tentar voltar aos EUA. Preso, mergulha em intermináveis pesadelos numa prisão da Turquia; sofre com torturas físicas e psicológicas, interrogatórios cruéis, desesperança continua, violência, violação, comida indigestível e total ausência de higiene e cuidados médicos. O diretor em seu segundo filme é Alan Parker (que mais tarde faria The Wall,Fama e Coração Satânico). O ano é 1978 e Midnight Express (no Brasil O Expresso da Meia-Noite) é uma das preciosidades cinematográficas do final da década de 70. Os temas sonoros de Giorgio Moroder tocam ininterruptamente nas rádios.Surpreendentemente estreando em Cannes com o passar das semanas torna- se um fenômeno de bilheteria no mundo todo.Chega ao Oscar e sai laureado com 2 troféus (roteiro adaptado de Oliver Stone e música).
Passados 30 anos o drama carcerário ao ser revisto por novas platéias ainda choca pela brutalidade pela qual passa o alienado personagem principal. O filme sobre aprisionamento e não sobre fuga conserva até hoje uma aparência incomum de filme independente pregando um libelo sobre a liberdade individual de todo individuo preso num país estrangeiro. Grande parte da polêmica ocorrida na época do lançamento se deu pela história que critica e discrimina descaradamente a cultura e o sistema jurídico turco, pois a mensagem passada de forma controversa não apresenta nenhum cidadão turco sob boa perspectiva. A cena passada no tribunal durante o segundo julgamento explicita bem esse foco quando o personagem se dirige ao júri e clama que: “os odeia e que não entende o fato de serem porcos não os comerem.” O filme nos aspectos técnicos contou com a sensibilidade visual do fotógrafo Michel Seresin que filmou com câmara manual dando um aspecto contemporâneo à fita. A trilha sonora foi a 1ª trilha eletrônica a ganhar um Oscar da Academia. A batida do coração usada de forma enfática e excitante na cena do aeroporto intensifica o clima de angustia sufocante pelo qual passa o estudante.
Outro fator determinante ao sucesso do filme foi a pouca interferência que o estúdio da Columbia teve sobre a finalização. Na época o filme foi feito por um grande estúdio, mas hoje pelo baixo orçamento e tema politicamente incorreto seria viável a realização apenas por estúdio independente.
Segundo Alan Parker o filme embora considerado anti-turco não tem a intenção de discriminar mas sim chamar a atenção do mundo sobre as condições hostis das prisões turcas e de como era tratado a questão das drogas em alguns países. Chama a atenção também durante o filme a condição de bode expiatório de Billy Hayes, condenado a passar 4 anos na prisão teve seu processo revisto e a pena modificada para prisão perpétua, vitimado pela represália turca à política externa de Nixon de combate ao tráfico de drogas.
Midnight Express é um daqueles raros filmes que após a maioridade ainda conserva o espírito contestador de um adolescente, mexendo com os nervos de novos espectadores. Conserva- se atualíssimo porque a força da elegia à liberdade e à defesa dos direitos humanos, se faz presente a cada fotograma, coisa rara na atual cinematografia comercial.
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