O cinema de Brillante Mendoza é um cinema de impacto. Impacto das imagens e da justaposição delas. Dos planos tremidos e sujos aos cortes abruptos, Mendoza expõe uma visão de mundo em que o horror impera do inicio ao fim. Sua estética talvez atue de maneira mais poderosa que a própria história – que não deixa de ser cortante.
Em seu tratamento aos personagens, o realizador produz sensações onde menos se espera. Seguindo um grupo sequestrado por uma organização terrorista, Mendoza arquiteta seu filme de forma a não serem os momentos de sofrimento descarado os mais tocantes, e sim aqueles em que se vislumbram sorrisos deprimentes em meio ao caos. Quando um dos momentos mais felizes é aquele em que uma mulher, obrigada a se casar com o líder da quadrilha, ganha a liberdade ao descobrir que está grávida do mesmo, é porque não há muito espaço para a “felicidade” ali – e no mundo.
Assim, todo o filme se torna impregnado de dor. Até mesmo os belos planos da floresta são interceptados por uma atitude humana brutal, um som do ameaçador e cego helicóptero ou uma imagem desconcertante da própria natureza. Certa altura do filme, a câmera se aproxima de uma bela árvore e com ela as cobras. Os animais de coloração exótica logo cerca um pássaro e matam-no diante de nossos olhos, sem pudor algum. São animais, seres irracionais aos quais a presença da câmera é indiferente – pelo menos no que diz respeito a sua natureza.
Os homens, ao contrário dos animais, são mais ardilosos. Amparados em um discurso de religiosidade ao qual claramente não seguem, assassinam outros seres humanos as escondidas por não valerem nada monetariamente. Ironicamente, aqueles que estão à serviço das autoridades matam descaradamente (e sem descriminação). Os momentos de intervenção desses são os mais banhados de sangue.
Sem perder sua linearidade e diegese, Mendoza se permite experimentar formalmente de maneira constante. Seu grito horrendo é contra tudo e contra todos, sem deixar nada de fora. Ataca, com vigor e solidez, conceitos como beleza, religião e humanidade. Não existe distinção entre o bom e o mau, o belo e o feio, o certo e o errado. As trevas predominam sobre tudo e sobre todos.
O caráter duvidoso não fica a cargo apenas da religião dos sequestradores (islã), mas também de boa parte dos reféns (cristã). Da mesma forma, não é apenas o opressivo governo capitalista estrangeiro que é cruel, o governo filipino não é muito melhor. As pessoas sofrem pelas mãos de ambos, talvez mais do que pelas dos bandidos. O que de forma alguma os inocenta, pois suas motivações mercenárias são evidentes.
Ao final de Apocalypse Now, o capitão Benjamin está mergulhado na lama. Ao emergir, expressa: “O horror, o horror”. Com essa cena, Francis Ford Copolla sintetizara tudo aquilo que Mendoza viria a explodir em Captive. Ao colocar os dois filmes lado a lado, vemos que passados mais de trinta anos, o absurdo permanece, mudando apenas de endereço – mas não necessariamente de cara. Para além de um filme político, Captive é sobretudo humano. Humano demais para se suportar.
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