Mistura inusitada de terror, guerra e ficção científica gera uma singela, porém agradável surpresa
A Segunda Guerra Mundial já foi inspiração para centenas de filmes, de clássicos como A Ponte do Rio Kwai (Bridge on the River Kwai, 1957), a filmes mais recentes, como Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016); De satiras de humor negro como Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), a animações dramáticas, como O Túmulo dos Vagalumes (Hotaru No Haka, 1988).
Contudo, nenhum filme sobre a Segunda Guerra Mundial se tornou mais emblemático do que O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998), dirigido por Steven Spielberg e vencedor de 5 Oscars. O longa de Spielberg ficou eternamente marcado por sua cena de abertura, que mostrava o confronto na praia de Omaha, na costa Francesa, em 6 de Junho de 1944 (o Dia D).
Curiosamente, Operação Overlord (Overlord, 2018) mostra um outro lado do Dia D, mostrando a missão que possibilitou que as tropas chegassem até a praia. A trama acompanha um grupo de soldados com a missão de explodir uma torre de rádio localizada em um pequeno vilarejo em meio a uma floresta francesa, para que dessa forma, os soldados pudessem chegar até a praia sem serem detectados. Contudo, a missão se mostra ainda mais complicada quando os soldados descobrem que as tropas nazistas estão fazendo experiências em um laboratório secreto abaixo da torre.
Assim como em Bastardos Inglórios, Operação Overlord usa a França da Segunda Guerra como um cenário para contar uma história completamente desconexa com a realidade, mas enquanto que na obra de Tarantino, o foco era contar uma história de vingança, Overlord usa a guerra, e mais precisamente as missões relacionadas à Batalha da Normandia, para contar uma história de terror e ficção científica.
Para o bem ou para o mal, o grande momento do filme é sua cena de abertura, que consiste na apresentação do grupo de soldados e de sua missão, diálogos que são seguidos por uma insana cena de ação, que consiste no salto dos soldados nas terras francesas. A cena é de dar frio na barriga, além de toda a angústia pelo alto senso de perigo que a cena transmite. Uma pena que o filme jamais recupere a empolgação dessa cena inicial.
O protagonista Jovan Adepo (Um Limite Entre Nós), interpreta um personagem de fácil identificação. Ele é íntegro e justo, sempre disposto a ajudar quem mais precisa, mesmo com seu jeito atrapalhado e pouco preparado para a batalha. É interessante ver um personagem tão humano à frente de um filme de guerra. Sem falar de como é bom também ver um protagonista negro em um filme onde a cor da pele não é importante para o desenrolar da trama.
Em contrapartida, a liderança do soldado Ford, interpretado por Wyatt Russel, é bem mais focada no objetivo da missão, independente das consequências. O personagem tinha tudo para ser um vilão, pois não mede escrúpulos pelo bem da missão, mas tem seus momentos de redenção. A atriz Mathilde Ollivier, ainda inexperiente em grandes produções, apresenta uma personagem feminina de grande destaque, consegue ser uma representação bastante humana e verdadeira de uma mulher, já que ela nem é uma super guerreira e nem uma donzela indefesa, é apenas uma mulher corajosa tentando sobreviver e proteger sua família.
Por mais que todo o elenco esteja bem, o maior destaque no elenco seja para o ator dinamarquês Pilou Asbæk, que interpreta o vilão Wafner. Típico vilão nazista, Wafner consegue ser ameaçador e charmoso ao mesmo tempo, e protagonista momentos de mais pura tensão e repulsa, que com certeza não serão esquecidos tão facilmente.
É difícil analisar o filme que mescla tantos gêneros diferentes, mas vendo um gênero por vez, é possível analisar cada gênero separadamente: Como filme de ação e guerra, Overlord se destaca mais, pois além da imponência da cena de abertura, todo o núcleo dos soldados, a camaradagem, a zueira, o foco na missão, até mesmo o dilema de até onde se pode ir pelo bem da missão são abordados no filme, com o direito a excelentes cenas de tiroteio.
Como terror, o filme demora mais para engrenar, mas quando apresentados, os elementos de horror são bem desenvolvidos em tela, pelo menos até o início do terceiro ato, quando a ação toma conta da tela, mas mesmo assim, o filme possui alguns sustos, sem falar nas bizarrices e nojeiras de um bom filme de terror.
Talvez o gênero menos desenvolvido seja a ficção científica, que é abordada de forma bastante simples e direta, o que favorece a narrativa, mas impede um aprofundamento maior dentro daquele universo.
O maior problema do filme, como já mencionado anteriormente, é a sua maior qualidade: A cena de abertura, pois ela prende o espectador de um forma tão eficiente, que fica impossível de ser repetida, pelo contrário, a abertura nos deixa com a expectativa altíssima para o que ainda está por vir, que mesmo não sendo ruim, não é nada de muito empolgante.
Operação Overlord é um filme interessante e agradável, daqueles pipocões divertidos de se assistir com a galera no final de semana. Dificilmente terá uma sequência ou uma exploração maior de seu universo, mas vale a pena conferi-lo como uma obra única e passageira.
OBS: Existem boatos de que esse filme seria incluído na franquia Cloverfield, o quarto longa da franquia. Contudo, meses antes de seu lançamento, o produtor J.J. Abrams declarou que Overlord seria um filme a parte, sem ligação com a saga Cloverfield. Essa ligação não é vista em nenhum momento durante o longa, mas é bastante notável que Overlord tem um clima de mistério bastante característico de Cloverfield, o que nos faz pensar que de fato este seria o Cloverfield 4, mas a ideia de ligar as produções foi abandonada no meio do caminho, muito provavelmente devido ao fracasso de crítica de The Cloverfield Paradox.
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