Boyhood é a timeline da vida mostrada de forma primorosa por Richard Linklater
Boyhood tinha tudo para dar errado pelo simples fato de ter duração de 12 anos, poderia haver falta de interesse por parte dos atores, e de fato houve a filha do diretor que interpreta Samantha pediu para sair do filme, mas foi convencida a continuar, uma crise financeira global poderia arruinar o projeto, a morte dos atores centrais ou até mesmo do diretor e roteirista, que aliás pediu para o ator Ethan Hawke dirigir o filme caso ele viesse falecer durante as gravações, bom enfim em meio a todos esses riscos nada disso felizmente aconteceu, Boyhood recebeu 6 indicações ao Oscar, mas venceu apenas na categoria de melhor atriz coadjuvante (Patricia Arquette) que brilhantemente interpreta a mãe de Mason.
O elenco se reuniu uma vez por ano entre 2002 e 2013 em 39 dias de gravações durante o verão, nesse intervalo de tempo Linklater lançou outros 9 filmes e o ator Ethan Hawke participou de pelo menos 20 filmes.
Outro fato importante são as mudanças que o mundo teve durante esse período, a febre no universo teen que Britney Spears e o sucesso literário Harry Potter causaram, já no universo político o filme retrata a esperança americana de sair da crise econômica apostando todas as fichas no primeiro presidente negro de sua história (Barack Obama).
Boyhood é tão próximo da realidade que a história da família Evans se mistura com a família de muitas pessoas ao redor do mundo.
A gravidez na juventude e a tentativa frustrada de estabelecer um lar quando não há comprometimento e responsabilidade, seja por parte do pai ou da mãe.
As brigas de um relacionamento conturbado e sem estrutura que as crianças presenciam dentro de casa, o pai ausente que some mundo afora para se aventura nos Alasca da vida, deixando a responsabilidade da criação dos filhos nas costas da mãe.
A imaturidade da mulher que só fez e faz escolhas erradas para vida amorosa, mas que luta para criar dignamente seus filhos e formá-los cidadãos de bem.
Boyhood mostra a inocência da criança que sonha com a reconstrução do lar, ter a figura do pai de volta vivendo com a mãe.
Retrata a figura padrasto que tenta ser bonzinho no começo, mas que se deixa levar pela embriaguez e se mostra um sujeito totalmente desequilibrado e cruel, agredindo os próprios filhos a mulher e os enteados. Certamente muitas pessoas passam ou já passaram por situações semelhantes.
Olivia (Patrícia Arquette), mostra bem como é ter que lidar com esses problemas de criar sozinha os filhos de ser humilhada pelo segundo marido, morar de favor na casa de amiga juntamente com os filhos, arriscar um terceiro casamento e não obter o sucesso, ver os filhos crescendo e sentir a dor de que cedo ou tarde vê-los partir de casa e construir sua própria história.
Já Evans desenvolve um papel paterno muito simples, sem a responsabilidade de educar, acompanhar os problemas na escola ou de saúde, cumpre apenas o lado light de levar os filhos para assistir partida de futebol, lançamento do livro Harry Potter, acampar ou ir em um fast food, moleza ser pai assim né?
O mais interessante do filme é que ele não tem efeitos especiais, frases marcantes ou cenas emblemáticas, o que torna Boyhood um filme grandioso é esse processo evolutivo e real dos personagens, no início do filme Patrícia Arquette é uma loira linda de pele lisa e corpo bem definido, Ethan Hawke com aparecia de menino sem sinas de envelhecimento já Ellar Coltrane e Lorelei Linklater dão um realismo ainda maior no início do filme mostrando a relação conturbada entre irmão e irmã.
É o tal de ele fez isso ou ela falou aquilo, tudo para chamar à atenção dos pais.
O ponto emocionante do filme é ver as mudanças que o tempo traz, as mudanças de voz de Mason, o cortes de cabelos o jeito de se vestir, Samantha começa deixar o corpo de criança para trás inicia a fase que toda adolescente passa de ser resmungona, se trancar no quarto com a amiga, sentir vergonha de andar com o irmão pirralho, as pinturas exóticas de cabelos, piercing e brincos.
Mason também muda radicalmente seus estilos de roupa e cabelo durante as 3 horas de filme, a fase pré-adolescência de se interessar por revistinhas de mulheres com seios salientes, as rodinhas de amigos que sempre mentem dizendo que se relacionaram sexualmente com alguma garota, mas na realidade continuam virgens, esse período na vida de Mason cria uma identidade com quem está assistindo, as lembranças da adolescência, o primeiro interesse pelo sexo oposto, o contato com álcool.
Mesmo com toda dificuldade enfrentada durante a infância, por conta dos insucessos amorosos da mãe, a crise financeira, mudanças de cidades e a ausência de figura paterna, Mason não se relaciona com o crime ou qualquer tipo de drogas, o que é muito comum em famílias onde não há um lar estruturado.
Evans assim como os filhos também amadurece durante esse período, casa novamente, tem a oportunidade de ser pai pela terceira vez, se reaproxima dos filhos e passa ser mais atuante na vida deles.
Em um momento importante do filme, Evans reconhece o esforço de Olivia por ter criado os filhos com dificuldade mas com dignidade e tê-los formados cidadãos honrados.
O diretor Richard Linklater mostra a primeira relação sexual de Mason, a primeira embriaguez, o termino do namoro, o primeiro emprego em um fast food, a conquista do primeiro carro e pai dando conselhos de transito, dizendo que para ter um acidente basta haver dois motoristas por perto.
Na cena final Mason já um homem feito com barba e bigode, muda de cidade e se junta aos novos colegas universitários, em busca da realização de seus sonhos.
Gostei do texto e das informações nele contidas. Acho Boyhood muito bom, mas mais reconhecido por seus bastidores
Valeu Cristian,
O filme é bom pela proposta que ele tem, mas fora isso é cansativo.