Emmet é um trabalhador irrelevante, que se limita a cumprir as suas funções quotidianas enquanto mini-figura da LEGO. De repente, devido a um pequeno acidente, ele é confundido como o indivíduo especial e extraordinário que pode ser a salvação para enfrentar as maléficas intenções do Lorde Negócios, o líder ditatorial da cidade que tem um plano diabólico para acabar com a tranquilidade do universo.
O Filme LEGO está a receber uma invulgar aclamação dentro do género que se enquadra, destacando-se de um sem número de apostas insípidas e repetitivas que preenchem o mercado do Cinema de animação. E merece-o, pois de todas as obras cinematográficas que utilizam a expressão “filme familiar” para levar Pais e petizes à sala , esta é das poucas que justamente se auto-nomeou como tal.
Talvez desde Toy Story 3 que não se via um filme assim, um objeto satírico, inteligente e brilhante, que mexe a pequenada e a gente mais crescida de formas muito diferentes: enquanto as crianças ficam maravilhadas pela soberba animação e pelo lado “fixe” da narrativa, os adultos têm oportunidade de encontrar uma crítica à sociedade moderna que não se fica só por isso, possuindo várias camadas de subtileza que desafiam o mais moderno e complexo dos filmes de “imagem real”.
O Filme LEGO representa um daqueles raros acontecimentos cinematográficos em que todo o público se consegue divertir e retirar alguma coisa especial. É da essência do ser humano, e daquilo que torna cada um de nós único e insubstituível, que se fala primordialmente nesta trama de amor, amizade, família e aventura. E a fita não se limita a transmitir essa mensagem com alguma fórmula já considerada gasta e irrelevante: vemos a narrativa dar várias voltas em si própria, a mostrar-nos sempre umas quantas novas surpresas, e a desafiar a própria perspetiva que estamos a tirar do filme.
É uma história que nos deixa maravilhados, é um impressionante fresco da animação moderna e das suas potencialidades (que, felizmente, não se limitam só às proezas das técnicas acessórias desenvolvidas por Hollywood), e é também um blockbuster diferente, que, tal como há algumas décadas era hábito, aproveita o seu efeito pipoca para enganar o espectador. Sim, porque estão completamente enganados se pensam que irão ver mais uma proposta sensaborona e entediante, com a bonecada que anima sempre a criançada.
Estamos num mundo imaginário, tão bem construído e idealizado, em que a própria LEGO se autocritica e brinca com alguns dos franchises que a marca transformou em colecções dos seus intemporais brinquedos. Uma autêntica metralhadora de piadas, muitas delas que nos passam ao lado (e ainda mais das crianças), e que pegam em referências pop que são desconstruídas e alegremente ridicularizadas.
Obra surpreendentemente profunda que nos faz pensar nas tão suaves e manipuladoras tentativas que o sistema cria para nos alienar e nos integrarmos socialmente num colectivo vazio e sem ponta de interesse individual, O Filme LEGO possui uma grande espectacularidade visual, sentimental e mesmo… filosófica.
Sim, tem os seus clichés, mas não são essenciais. Sim, tem as suas infantilidades, mas quem pensa que a infantilidade ultrapassa o tempo curto em que somos crianças (e por lá se fala nisso também)? Sim, é um filme mainstream, cujas opiniões críticas que forem escritas não afectarão em nada os crescentes lucros que tem obtido no box-office mundial. E depois? Qual é o problema, se estamos perante um grande filme cómico de aventuras, que recupera os clássicos não por ser como eles, mas por ter o mesmo espírito de auto descoberta e de reinvenção constante dos seus materiais criativos e visuais?
O Filme LEGO é um espantoso feito visual, imparável e impagável, com muita coisa para ser contemplada. As múltiplas reviravoltas da sua estrutura e a surpresa constante que nos oferece fazem deste filme uma peça rara na animação moderna, multifacetada e high-tech, que está tão presente no mercado cinematográfico que quase se tornou uma espécie de rotina repetitiva e desinteressante. São filmes como este que dão nova fé ao Cinema de animação e nos fazem ver como há ainda pessoas e histórias que querem alterar aquilo que já vimos milhões de vezes.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário