O anúncio do retorno do diretor Ridley Scott à ficção científica, gênero que lhe deu reconhecimento (mais especificamente pelos filmes “Alien, O Oitavo Passageiro“ - (1979) e “Blade Runner – O Caçador de Andróides” - (1982)) gerou grandes, ou melhor, gigantes expectativas em torno de seu novo projeto. A ampla utilização da frase “o retorno ao gênero que o consagrou” nos diversos meios, só fez aumentar, à potência, a responsabilidade do diretor de entregar para o público uma obra "grandiosa", como estava, no mínimo, sendo esperada. E “Prometheus”, de alguma forma estava sendo tratado como um "ressurgimento", vista a opinião dos críticos acerca da qualidade de seus recentes trabalhos. As fotos e os 'trailers' periodicamente publicados já revelavam um longa de tom sombrio e épico. Então tudo convergia para enormes expectativas, o que acabou no fim influenciando na recepção do filme. Infelizmente, quando não encontramos aquilo que procurávamos, ou não sentimos o que esperávamos sentir, começamos a olhar de uma maneira um pouco pessimista, e os erros tornam-se mais visíveis que os êxitos. Normal! Frases exaltadas, como "no escuro do cinema, ninguém pode ouvir você se decepcionar" foram surgindo por parte da crítica. Mas as opiniões positivas ainda assim corresponderam à maioria.
É claro que "Prometheus" tem alguns problemas técnicos ou em nível de roteiro. Mas alguns deles dependem muito de como os enxergamos. Por exemplo, podemos considerar as diversas questões não respondidas como incógnitas propositais, ou simplesmente pontos a serem respondidos em uma continuação. A maneira de encarar tais problemas depende muito do espectador, mas não podemos negar que certo otimismo é preciso. E é aí que as expectativas podem prejudicar o longa.
Devemos perceber a coragem do diretor Ridley Scott de se arriscar em uma profundidade tão ambiciosa, poucas vezes vista dentro deste gênero. Muita coisa é abordada: a origem da vida, razão de existência, crença em Deus (religião) e outros temas de certa forma também controversos. Para muitos, muito foi levantado, mas pouco de forma realmente sólida. Porém os temas foram sim bem trabalhados, com um resultado final bem acima da média, quando comparado a outros filmes de abordagem semelhante, possibilitando inclusive a realização de discussões acerca dos assuntos, dentro e fora do contexto daquele universo.
Realmente, talvez seja melhor tratar "Prometheus" como algo separado da franquia "Alien", pensando em nível de expectativa. Mas há, de fato, uma relação muito forte entre este longa e o "Oitavo Passageiro", demonstrada em muitos momentos, inclusive ao final. Esta relação com o filme de 1979 de alguma maneira conseguiu enriquecê-lo ainda mais, talvez pela explicação de certos elementos que pareciam sem sentido ou soltos, ou também pela (pequena) expansão daquele mundo. Esperamos que uma possível sequência venha a esclarecer pelo menos parte dos questionamentos, de forma que um longa complete o outro, pois desta maneira o próprio "Prometheus" crescerá. Pontos a serem explorados existem, e muitos! Basta saber aproveitá-los.
Ridley Scott em entrevistas disse que queria passar uma ideia de grandiosidade, que as pessoas e até mesmo as naves parecessem minúsculas perante enormes cenários. E isto ele de fato conseguiu passar, obviamente graças aos excelentes efeitos visuais e a direção de arte impressionante, que tornaram tudo bastante verossímil pela riqueza de detalhes, o que possibilitou em boa parte a bela composição da fotografia. E realmente há uma preocupação com o detalhe. Um exemplo interessante é quando no início, um tipo de “cometa” atravessa toda a tela, de um lado a outro, e logo após nos damos conta que se trata na verdade da nave Prometheus, permitindo assim uma noção da velocidade com que a espaçonave se locomovia.
O elemento terror aqui está bastante forte. O clima de mistério, as paisagens cinza, a trilha sonora, todos os elementos em prol de uma experiência excitante e angustiante. Além da construção impecável de alguns momentos de tensão extrema, praticamente inesquecíveis (olhar para trás e observar as faces das pessoas nestes momentos é sempre instigante!). Com relação aos personagens, infelizmente apenas dois se destacam: o androide David, interpretado por Michael Fassbender, e a cientista Elizabeth Shaw, vivida por Noomi Rapace. Ambos possuem uma importância bem estabelecida na trama, cada um com um mínimo de personalidade, o que não ocorre com os demais tripulantes, tendo alguns inclusive desfechos bem a desejar. A personagem de Charlize Theron não foi tão subaproveitada como dizem, mas o seu desfecho, de fato, foi bem ruim (mas não pior que o de Charlie Holloway (Logan Marshall-Green)).
Mas os deslizes são incapazes de comprometer o tamanho entretenimento que o filme do Ridley Scott é capaz de proporcionar, principalmente se a procura por pormenores não sobrepor a vontade de se divertir. Agora aguardemos por uma provável continuação, que venha a expandir ainda mais este misterioso e aterrorizante universo “Alien”, trazendo (ou não) as respostas que tanto fizeram falta para muitos. E finalmente posso dizer, sem sombra de dúvidas, que as minhas expectativas foram sim alcançadas, e que “Prometheus” foi um dos melhores filmes assistidos neste ano de 2012 e uma das melhores ficções científicas dos últimos tempos.
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