Recentemente (mas nem tanto), como consequência da contínua queda de criatividade e do crescente interesse econômico dos estúdios de Hollywood, temos testemunhado uma verdadeira enxurrada de "remakes" (ou refilmagens) e "reboots" invadir as salas de cinema pelo mundo. Baseando-se em incontáveis exemplos (‘Psicose’, ‘O Massacre da Serra Elétrica’, ‘O Espetacular Homem-Aranha’...), podemos afirmar que essas estratégias poucas vezes foram bem-sucedidas em termos de qualidade. Obras excepcionais “adaptadas” de forma a agradar uma geração acostumada à pirotecnia digital exibida em telão Full HD, que condena o preto-e-branco e exalta o 3D. Em sua segunda refilmagem (isso mesmo!), "Carrie" novamente não consegue chegar perto do que foi o filme original de 1976, dirigido por Brian De Palma.
Para quem não conhece o trabalho do De Palma, trata-se de um dos filmes de suspense/terror mais cultuados da década de 70, uma adaptação do livro homônimo de Stephen King, e que traz questões complexas, como o fanatismo religioso, a paranormalidade e o bullying. É também bastante conhecido pela icônica cena do baile de formatura, responsável por inspirar diversas outras cenas, no cinema e na televisão. O clima de horror que pairava nesse longa de 76, um ponto fortíssimo, quase foi perdido na nova versão. Tudo ficou mais gráfico, entretanto o terror psicológico enfraqueceu. Um espírito “teen” modernex e mal-vindo se apoderou e quebrou em muitos momentos qualquer tensão proposta. É aquilo de adaptar ao público de hoje...
Para se ter uma ideia, a personagem Margaret White, mãe de Carrie White, vivida pela atriz Piper Laurie no filme original, é considerada por muitos cinéfilos (e por mim também) uma das maiores vilãs da história do cinema, e uma das mais odiadas. Nesse de 2013, chegamos a sentir pena dela. Não é pela atuação de Julianne Moore, mas sim pelo deslocamento da personagem, má encaixada naquele universo “alegre” demais. Já a jovem atriz Chloë Moretz, que já provou ser bem versátil atuando em filmes como ‘Kick-ass – Quebrando Tudo’ (2010) e ‘A Invenção de Hugo Cabret’ (2011), não conseguiu encarnar tão bem a problemática Carrie, mesmo visivelmente esforçada em tentar passar os medos e inseguranças da adolescente. Uma pena! A comparação com a atriz Sissy Spacek (indicada ao Oscar) ocorre naturalmente, já que ela é a referência, e que se encaixou perfeitamente no papel.
Como algo positivo, o filme trouxe novamente uma “discussão” acerca de um problema bem antigo e sério, o bullying (o termo sim, é novo), mas com uma roupagem mais atual, incluindo elementos como o uso de aparelhos celulares e redes sociais (a internet) como ferramentas para abusar moralmente e inferiorizar aqueles que são diferentes ou aparentemente frágeis. Ainda assim, o tema não foi explorado na profundidade que poderia. O discurso religioso também é válido, principalmente em épocas de questionamento do papel da igreja na nossa sociedade moderna.
O "marketing" pesado investido gerou certa expectativa, mas por trás de todo o falatório havia um longa com problemas de ritmo, de roteiro e até de atuações. Não conhecia a diretora Kimberly Peirce, portanto fiquei impressionado ao saber que ela também dirigiu o impactante ‘Meninos Não Choram’ (1999); uma diferença brutal de qualidade. Portanto, mesmo que mais antigo e tecnicamente não tão perfeito (não estou dizendo que o mais novo é!), prefira o original, dirigido pelo mestre De Palma. Mas caso ainda queira assistir o “remake”, por favor, opte pela sessão legendada. O trabalho de dublagem ficou muito a desejar!
Ah, muito obrigado! 😁