Mais um na lista dos que vieram pra falar do fim do mundo, A estrada é um filme que vai além do que se pode ver nas telas comumente. O filme além de possibilitar várias interpretações, possui caráter fortemente antropológico, sociológico, ecológico e por que não dizer filosófico?
Adaptação do romance de Comarc McCarthy, autor de "Onde os fracos não tem vez", o filme do diretor John Hillcoat conta a história de um pai e um filho introduzidos numa agoniante viagem por um mundo devastado e a luta pela sobrevivência onde a vida não tem mais sentido. A estrada constitui uma nova abordagem sobre um mundo pós-apocalíptico em que depois de um inexplicado clarão o que restou foi um ambiente frio e cinzento, disprovido de qualquer tipo de vida que não a de alguns sobreviventes humanos. Para esses, já não importa nada que não seja a sobrevivência, nem mesmo suas identidades, daí o fato de os personagens não terem nomes e serem identificados por palavras como: o homem, o garoto, a mulher, o velho, o veterano, o ladrão.
O pai e o filho nada mais tem do que um ao outro e algumas lembraças vazias do pai, juntos eles vão por a estrada em direção ao sul, nessa jornada serão testados com profundidade os seus sentimentos de humanidade e de esperança. O canibalismo que tem se tornado uma prática corrente nas comunidades de sobrevivência afetiva, faz com que o pai e filho optem pelo isolamento e se alimentem de restos de comida.
Tecnicamente, o filme é bem feito. A fotografia, apesar de "feia", é perfeita, as atuaçõe são ótimas (com excessão da do garoto), o roteiro é adequado, o cenário é uniforme e cinza, constituído apenas de coisas destruídas, carros, casas, árvores caídas e ausência da luz do sol. Incêndios frequentes chuvas completam os efeitos.
Quanto ao setido da mensagem, é possível diversas análises. Primeiro pode ser visto como um paralelo ao modus vivendi hodierno, as formas de sociabilidade e isolamento presentes no filme. Em segundo lugar, vendo do ponto de vista antropológico, assim como Dogville, Ensaio sobre a cegueira, Distrito 9, A vila, Substitutos e tantos outros de similar caráter, o filme revela os instintos humanos, do que pode ser capáz o homem para realizar seus objetivos, o peso dos interesses individuais e dos coletivos e o comportamento humano frente a situações-limites. Em uma uma terceira avaliação, a aparentemente mais objetivada, o filme é um alerta sobre as condições da natureza, sobre o efeito degradante da ação humana e as possibilidades de futuro.
Há quem diga também que a essência do filme está na profundidade da relação entre pai e filho (o que não poderia ter sido feito exclusivamente num contexto pós-apocalíptico). Então em última análise e partindo de uma proposição filosófica, a estrada pode ser comparada à vida, aplicamos aí os conceitos de eternidade, infinitude, limite e continuidade. A vida, assim como a estrada do filme é infinita, ela continua... nós é que temos os nossos limites (no caso: o homem) e não podemos continuar nessa estrada pra sempre.
O filme toca mais uma vez na ideia de fim, mas permite sérias reflexões sobre a vida, está recomendado para quem se interessa por tais reflexões.
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