“Desta vez, ser rápido não será suficiente...”, diz Dominic Toretto à sua equipe em algum momento de velozes e furiosos 7.
Essa certamente é a frase de maior efeito que resume tudo aquilo que veremos em velozes 7, em suas mais de duas horas de duração.
Com o objetivo de concluir a saga e fechar todas as interrogações deixadas em filmes anteriores, além de se despedir do primeiro personagem que mostrou a cara no longínquo ano de 2001, Brian O´Conner, que falarei mais abaixo, esse é sem dúvida o filme mais ousado, divertido, emocionante e absurdo da série. Apesar de abusar de clichês, como resgates homicidas com ônibus e carros armados até os dentes, e frases que se repetem a cada filme desde velozes 4, aqui somos apresentados a mais absurda concepção de leis da física e ousadia na escolha da melhor solução para escapar de uma determinada situação. Ser rápido não é suficiente, pois dessa vez temos que ser imortais...
Isso é explicado perfeitamente na cena que mais me chamou atenção no longa, e talvez a mais absurda, onde Toretto está cercado pelo exército inimigo à sua frente, e a melhor solução encontrada é rodopiar o carro em direção ao penhasco e se jogar montanha abaixo. Que bom que carros de heróis nunca explodem, e seus ocupantes nem sempre se machucam, saindo quase ilesos. E isso se repete ao longo do filme, com a tão falada travessia voadora entre edifícios, onde os protagonistas destroem um carro de 3 milhões de dólares, além de carros saltando de para quedas, para mim, a cena menos forçada da trama.Não posso negar que isso cause um pouco de menosprezo aos fãs mais antigos da série, como eu, mas que diverte pra cacete...isso diverte.
Velozes e furiosos 7 é sem dúvida, o filme mais interessante da série de uns tempos pra cá. E digo isso me baseando nas particularidades que rodearam a produção. Logo de cara, o objetivo , como já era esperado, era o de fechar todas as pontas deixadas até aqui , principalmente a morte de Han em Tokyo, e a ida de Toretto ao Japão, que fez uma breve aparição em velozes 3. E até soluções para problemas mais recentes, como a amnésia da Letty. Tudo mostrado com muita maestria, nessa parte os maiores presenteados são mesmo os antigos fãs da série, pois somos levados a momentos de nostalgia e até cenas dos primeiros filmes. Tudo foi pensado nos detalhes. Vemos as garagens de Tokyo onde os drifts eram disputados, e até a trilha sonora daquela época foi ressuscitada, mas o mais legal é ver Sean conversando com Toretto após o racha, com as mesmas roupas e penteado, mas 8 anos mais velho, é claro. Outro personagem que reaparece para dar as caras e aumentar o clima de nostalgia é o Hector, amigo de Brian no original Velozes de 2001.
Porém, como nem tudo na vida acontece com a mesma perfeição vista em filmes, infelizmente, a maior particularidade vista na produção de velozes 7 foi a trágica morte de Paul Walker, antes da conclusão das filmagens,ironicamente, em um acidente de carro na Califórnia. Boa parte do roteiro teve de ser reescrito, e após quase ter sido cancelado o filme chegou com atraso e com o peso terrível nas costas de solucionar tudo que estava em aberto, além de arrumar um jeito de retirar ( não matar) O´Conner da série, além de prestar a última homenagem ao ator, com emocionantes falas nos momentos finais da projeção.
Quando vemos Toretto na tela, já conhecemos suas falas repetidas que sempre remetem a importância do tema família, com poucas expressões faciais estampadas na cara de um autêntico personagem canastrão do mundo das ruas.Mas quando ele aparece dentro de seu carro a espera de Brian numa pista nos momentos finais da homenagem prestada ao ator, não vemos Toretto...vemos um ser humano...vemos Vin Diesel. Fica bem evidente o real olhar de tristeza de alguém que chora de verdade a morte de um amigo de profissão, e mais que isso, um irmão.
Nos demais aspectos tudo que vemos é o mesmo do que já estamos acostumados. Os rachas ainda estão lá, pouco frequentes mas ainda servem de pano de fundo. Hip Hop e mulheres seminuas dançando, flashs rápidos mostrando vários carros esportivos dos mais caros do mundo, aliás, esses voltaram a ter destaque nesse filme. Com cenas mais iluminadas e por ângulos mais precisos, o novo diretor James Wan valorizou bastante os carros nas cenas de ação. Diferente dos últimos longas dirigidos por Justin Lin, que preferia tomadas rápidas com destaque apenas para os personagens. Acredito que pela inexperiência de J. Wan em filmes de ação, ele se saiu muito bem, e fica difícil julgar se fez um ótimo trabalho ou não nas cenas de luta, pois as melhores cenas nessa parte acredito que depende muito do potencial dos atores. Basta perceber que na melhor sequência de porradas vemos o agente Hobbs versus o vilão Shaw . Ambos lutadores e na vida real. Já as cenas de Dominic e Brian lutando contra os vilões, percebe-se vários cortes e ângulos imprecisos, talvez mesmo pela limitação desses atores.
E falando em vilões, temos Deckard Shaw, terrorista vingativo que vai atrás de quem destruiu seu irmão no longa anterior. Ele é quase imortal, chega e sai dos lugares como quer, sempre deixando caos e destruição. Jason Stathan faz boa atuação, no melhor estilo carga explosiva.Mas infelizmente, seu personagem fica comprometido com o roteiro. O que era pra ser visto como o melhor vilão da série, acaba sendo ofuscado pela aparição de outro vilão por trás de um esquisito assunto de interesse do governo, um tal dispositivo chamado “olho de Deus”.
Quando somos apresentados ao vilão e entramos no clima de vingança, surge então o Sr. Ninguém, interpretado por Kurt Russell. Este, vem para ocupar o espaço deixado por Hobbs que fica no hospital boa parte do tempo, e acaba trazendo outro assunto de interesse federal e outro vilão, Jakande, de Djimon Hounsou.Isso sim, acaba sendo a parte cansativa e incoerente do roteiro, pois além de ofuscar os objetivos do vilão principal que acaba ficando em segundo plano e aparecendo de relance nas sequências de ação, somos levados as mais ridículas soluções que envolvem desde carros voando entre edifícios até hackers que precisam carregar uma barra de progresso inteira para invadir o tal sistema olho de Deus.Tudo acontecendo ao mesmo tempo em que vemos explosões e máquinas futuristas que em algum momento nos traz uma mistura de Duro de matar 4.0 e exterminador do futuro na cabeça.
Quanto aos personagens principais, vemos a Mia, deixada mais uma vez de lado , e Letty, numa luta consigo mesma para recuperar a memória. Roman continua sendo o mais engraçado ao lado de Tej, e a nova membra da equipe, Ramsey, de Natalye Emanuel, pouco faz.
Como considerações finais, posso afirmar que Velozes 7 brilha entre os acertos e os escorregões do roteiro. Se por um lado temos as mais mentirosas e absurdas cenas de ação e soluções inimagináveis para qualquer ser humano da vida real, por outro temos o ótimo alívio cômico em diversas cenas principalmente as vividas por Roman Pearce. Além disso, fica difícil julgar um roteiro que teve de ser reescrito mais da metade de última hora, por conta da inesperada e triste morte de Paul Walker. O grande acerto aqui realmente foi a homenagem póstuma ao ator, a mais comovente que eu já vi. E com certeza, vai fazer falta na próxima sequência.
Ótimo comentário.