A antiga comédia romântica na era da modernidade dos anos 70.

Você sabe o que era uma comédia romântica no antigo estilo? Por volta dos anos 30, eram aqueles filmes que tinham seguintes características: diálogos afinados, casais interpretes que possuem boa química de relacionamento tanto nos seus personagens e nos bastidores, com uma historia inteligente e interessante na qual o publico, por mais que já tenha previsão dos acontecimentos (inclusive seu final), veja como os protagonistas vão se acertar para ficar juntos. Nesta década, gerou uma safra de filmes feitos por profissionais excelentes tanto em atores quanto diretores; obras primas de mestres como: Charles Chaplin ("Luzes da Cidade”, 1931), Frank Capra("Aconteceu Naquela Noite",1934; com feito de seu final jamais repetido novamente ao gênero), Preston Sturges("As Três Noites de Eve",1941) e Howard Hawks("Levada da Breca" de 1938,"Jejum de Amor" de Amor de 1940 e "Bola de Fogo" de 1941).

Quando chegou o final dos anos 60 e inicio dos 70, o cinema americano apresentava trabalhos de diretores autorais demonstrando o aprofundamento de personagens sem rumo, uso drogas, envolvimentos com prostituição e sexo. Deste periodo os filmes que mais se destacaram foram: "A Primeira Noite de Um Homem"(1967) de Mike Nichols e "Essa Pequena é uma Parada"(1972) de Peter Bogdanovich na qual este é uma grandiosa homenagem do diretor para Hawks do filme de 1938 com Cary Grant e Katherine Hepburn.Ano seguinte quando Bogdanovich realizou sua outra obra prima "Lua de Papel"(1973), veio junto o filme britanico "Um Toque de Classe" que foi dirigido,produzido e escrito por Melvin Frank.

A história não é uma novidade. O americano Steve(George Segal) está em Londres a negócios e de repente se encanta pela britânica Vicki (Glenda Jackson),a medida que o relacionamento dos dois se expande a coisa fica ruim para o casamento de Steve quando sua esposa Gloria (Hildegarde Neil) começa a levantar suspeitas.

O maior destaque aqui é dupla de protagonistas. George Segal que durante os anos 60 fazia dramas conseguiu confirmar seus status de comediante e cômico; enquanto a bela Glenda Jackson ficou muito conhecida por cometer algumas ousadias de atriz britânica como realizar cenas de sexo e nudez frontal no filme “Mulheres Apaixonadas” (1969) de Ken Russell e papel que rendeu Oscar de Melhor Atriz. Graças ao filme Glenda ganhou novamente a mesma estatueta confirmando seu talento de ser engraçada ao publico como pessoa; inclusive contracenaria mais tarde com outro ator cômico: americano Walter Matthau em filmes “Um Viúvo Trapalhão”(1978) e “O Espião Trapalhão”(1980) na qual alguns apontam que foi o melhor ator com quem já trabalhou em toda a vida.

Mas enfim voltando ao filme. A proposta de Melvin Frank foi tentar resgatar aquela antiga comédia romântica tendo inclusive as características que foram descritas e adicionando ainda o conteúdo sexual algo que antigamente focava mais nas situações engraçadas. Por isso esta acabou ficando um pouco estranha pelos espectadores e o que de fato caiu no esquecimento, embora tenha conquistado certo sucesso modesto. Alem disso o filme também é visto como precursor de Harry & Sally - Feitos Um Para Outro (1989) de Rob Reiner.

Enfim para mim o filme é bom, seu roteiro é inteligente, é deliciosa de ver e inclusive faltou a falar da trilha sonora composta por John Cameron e da musica “All that love went to waste”. Recebeu mais quatro indicações ao Oscar, entre eles: melhor filme e roteiro original, mas não acho que merecia ganhar este respeito da Academia poder ser visto como azarão. Ficou com curiosidade, vale a pena e recomendado para aqueles que querem algo diferente de assistir.

PS: uma coisa que pouca gente sabe. Seis anos depois do lançamento de Um Toque de Classe, o diretor Melvin Frank, roteirista Jack Rose e atores George Segal, Glenda Jackson e Paul Sorvino se reuniram novamente para fazer “Lost and Found” (1979). Com historia muito maluca ao mesmo, e para ficar bizarra ainda os brasileiros não teriam nem lido a sinopse, confundiram com filme de 1973 tratando de uma sequencia ou algo do tipo e batizaram de “Um Toque de Humor”, uma das piores traduções de títulos estrangeiros vindos para cá.