"Filmes são como sufles, podem tanto murchar ou crescer." (Nicholas Meyer)

The Africa Queen ou Uma Aventura na África

No início dos anos 50 John Huston estava vivendo seu momento mais decisivo de sua carreira. Depois de conquistar dois Oscars (diretor e roteiro adaptado) pela pérola-de-ouro com O Tesouro De Sierra Madre (1948), em seguida teve que lidar com o fracasso de Resgate de Sangue (1949) mas conseguindo se recuperar com outro clássico noir O Segredo das Joias (1950). Justamente neste ultimo ano (1950) sofreu sua maior perda de vida, a morte de pai o ator Walter Huston que havia interpretado o papel de Howard no Sierra Madre, no final da vida conquistou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Quando lhe surgiu a oportunidade de adaptar o romance de C.S. Forester, Huston arriscou algo inimaginável: filmar longe do conforto e acesso de Hollywood, e filmar no próprio continente africano. Alias, adaptação do livro de Forester era um antigo desejo de Hollywood chegando inclusive a cotar nomes como: Bette Davis, David Niven, James Manson, Charles Laughton e sua esposa Elsa Lanchester; a maioria dos estúdios enxergavam o projeto um suicídio financeiro devido aos gastos e na historia cujos protagonistas eram cinquentões que embarcam na aventura, algo que o publico não iria engolir.

Assim Huston juntou seus roteristas James Agee, Peter Viertel e John Collier, mais o futuro premiado produtor Sam Spiegel (de Sindicato de Ladroes, A Ponte do Rio Kwai e Lawrence da Arabia), equipe técnica e claro os astros Humphrey Bogart e Katharine Hepburn embarcaram numa viagem cansativa a Africa. Conta a historia que se passa no período da Primeira Guerra Mundial quando os alemães invadem a colônia de Dong Ku levando seus proprios nativos o reverendo Samuel Sayer (Robert Morley) acaba morrendo. Deixando sua irmã missionária Rose Sayer (Hepburn) sozinha ela decide embarcar no barco "The African Queen" a bordo de seu dono canadense Charlie Allnut (Bogart). Juntos vão navegando longamente por um rio onde devem enfrentar dois problemas: os perigos da presença do exercito alemão e lidar com as diferenças de relacionamento.

Mesmo pela enorme dificuldade de filmar e passar os dias por péssimas condições, o filme se compensa pela química de Humphrey Bogart e Katharine Hepburn, a direção de Huston e até pela impecável fotografia colorida de Jack Cardiff que oferece imagens magnificas da Africa que as vezes as cores chegam a dar uma impressão que o filme não chega a ser tão antigo.

Curiosamente um dos roteiristas Peter Viertel relatou as filmagens do filme e a obsessão de John Huston em caçar elefantes no seu romance "White Hunter, Black Heart" cujo Huston é nomeado como John Wilson; depois viria parar nas telas estrelado e dirigido por Clint Eastwood no filme Coração de Caçador (1990).

No final das contas o filme nao chega a ser obra-prima do diretor, mas consegue ser o mais divertido e acessível a todos os públicos da dupla Huston-Borgart. Por compensação Humphrey Bogart acabou ganhando seu único e até merecido Oscar de Melhor Ator, mesmo que tivesse concorrentes de peso Montgomery Clift por Um Lugar ao Sol e Marlon Brando por Uma Rua Chamada Pecado.