https://artedapipoca.wordpress.com/2019/04/30/vingadores-ultimato-avengers-endgame-critica-com-spoilers/
CRÍTICA COM SPOILERS
Falar de como a Marvel construiu algo, que pode ser chamado até de revolucionário em Hollywood, é simplesmente chover no molhado, então pulemos essa parte para ir diretamente ao que interessa. Vingadores: Ultimato chega com o objetivo de fechar um ciclo de onze anos de histórias, o que obviamente não significa o fim da franquia principalmente levando em consideração todo o dinheiro ganho até aqui e que também será arrecadado com esse filme, trata-se mais de uma passagem de bastão para que novos personagens tomem as dianteiras desse universo daqui por diante, e ainda que o resultado possa passar longe da perfeição, ou mesmo da qualidade de alguns outros trabalhos do estúdio, o novo filme do grupo de heróis da Marvel é uma conclusão de ciclo digna e que deve agradar a maior parte dos fãs.
Vingadores:Ultimato começa de onde Guerra Infinita parou e mostra o grupo de heróis tentando lidar com o mundo depois do estalar de dedos de Thanos que dizimou metade da população do universo. Enquanto tentam superar todas as perdas que tiveram e consolar os que ficaram o grupo busca uma solução para reverter o estrago feito pelo titã louco.
A estrutura do filme, provavelmente, vai surpreender mais os espectadores do que necessariamente as atitudes e o destino dos personagens em si, e isso já fica claro logo nos 15 primeiros minutos onde a vertente mais óbvia pela qual o roteiro poderia trabalhar é totalmente eliminada deixando quem está assistindo perdido sobre por quais rumos à trama vai caminhar.
A viagem no tempo, solução escolhida pelos vingadores para reverter o estalar de dedos de Thanos, é um desses pontos inerentes a estrutura do longa que devem surpreender o espectador, mais pelo fato de como ela ocorre e o que ela explora de fato do que pelo elemento em si, já que há muitos meses antes da estreia já era especulado que teríamos esse artificio no longa. Visando conquistar as joias do infinito, o grupo de heróis, divididos em três sub-grupos, volta no tempo, assim revisitando filmes do estúdio como: Vingadores (2012), Thor: O Mundo Sombrio (2013) e Guardiões da Galáxia (2014), com cada subgrupo indo para um desses períodos no tempo. Entrar no universo desses filmes novamente, dessa vez por um novo olhar, é extremante divertido e um puro deleite ao fã de longa data do estúdio, mas ainda assim a melhor parte acontece quando entraves começam a ocorrer nos planos dos heróis e os mesmos precisam se desdobrar para encontrar formas de alcançar o objetivo de seus planos, o que dá uma ótima sensação de incerteza ao espectador, assim gerando situações interessantes e criativas, com exceção do núcleo que envolve o Capitão América (Chris Evans) e o Homem De Ferro (Robert Downey Jr.) que vai se desenrolando bem, mas que conforme os problemas vão ficando cada vez maiores acaba indo para um caminho sem graça e um tanto quanto preguiçoso por parte do roteiro.
Ainda falando na viagem do tempo vale ressaltar como a lógica por trás da mesma é bem estruturada pelo roteiro e explicada ao espectador na medida certa, aqui há menos espaço para possíveis furos que acabam sendo muito comuns em filmes que utilizem desse tipo de viagem, longas esses que vale ressaltar são lembrados em vários alívios cômicos do filme.
A primeira hora do filme surpreende por praticamente não ter cenas de ação e focar no desenvolvimento de seus personagens e mostrar, de forma satisfatória, como eles e o mundo estão lidando com o estalar de dedos de Thanos, é interessante ver a metamorfose pela quais vários heróis passaram ao lidar com o luto e a culpa pelo sumiço de metade da população do universo. Essa decisão de focar a primeira hora na construção de seus personagens tem um lado positivo, que é o de tornar os heróis mais humanos e críveis, e tem um lado negativo, que é o fato de tirar a agilidade que um filme desse porte precisa, e que seu antecessor tem e de sobra, esses primeiros sessenta minutos do longa não chegam a ser monótonos, mas dão a impressão que, já que não acontece muita coisa nesse período, eles poderiam ter sido condensados por parte da edição.
Falando nos personagens, vale ressaltar que o foco do filme é no Homem de Ferro e no Capitão América, provavelmente os dois heróis mais populares desse universo, e que aqui tem um grande tempo em tela. O primeiro é mostrado lidando com a culpa pelos acontecimentos do filme anterior ao mesmo tempo em que tem que lidar com novos fatos em sua vida pessoal. É interessante notar como ao longo dos filmes o personagem foi ficando mais dramático, mas sem nunca perder seu lado bem humorado, aqui Stark está menos dramático que no filme anterior, mas ainda sim bem mais do que em suas primeiras aparições, tudo isso ancorado por mais uma boa interpretação de Downey Jr, que sempre vale ressaltar, nasceu para esse papel. Já o Capitão América é apresentado aqui como um herói que busca motivar as outras pessoas e enxergar o lado positivo da situação, agindo como um verdadeiro líder é interessante notar o contraste da sua decisão de como lidar com os eventos do filme anterior comparado com a dos outros heróis.
Há aqui também outros personagens com bons arcos e que merecem destaque. Gavião Arqueiro, que ao lidar com o luto pela perda de sua família toma decisões bastante sombrias para sua vida. Nebulosa, que aqui conclui sua jornada de redenção iniciada em Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017). Thor, aqui abraçando de vez a sua nova, e bem melhor que a antiga, personalidade bastante cômica. Hulk que aqui aparece em uma versão mais ligado ao lado cerebral de Bruce Banner, mas que acaba gerando ótimos alívios cômicos. E finalmente, o Homem-Formiga, que apesar de ser introduzido na história com um recurso para lá de questionável, tem aqui um papel de destaque que acaba servindo como fio condutor a toda trama envolvendo a viagem no tempo.
Quem acaba por decepcionar aqui devido ao seu mau aproveitamento por parte do roteiro acaba sendo a Capitã Marvel, que aparece nos quinze primeiros minutos do filme e some até voltar nos quinze minutos finais do filme. Para uma personagem introduzida como uma das mais poderosas desse universo, e que vem de um ótimo filme solo, sua aparição no filme é bastante decepcionante.
Ao contrário de Guerra Infinita onde, surpreendentemente, Thanos acabou sendo o protagonista do filme, aqui ele tem uma participação menor, mas ainda sim bastante imponente. Em Ultimato o titã louco continua com suas ótimas frases de efeitos, que nunca soam como vazias, e com forte convicção acerca de suas motivações, que aqui até sofrem um “incremento”. Ainda valendo ressaltar que no combate físico com os heróis o vilão mostra ainda mais por que é ele é o maior antagonista que o grupo de heróis já enfrentou, dando a impressão em diversos momentos que é ainda mais poderoso do que foi mostrado no filme anterior.
No que diz respeito às cenas de ação os diretores do filme Joe e Anthony Russo não entregam seus melhores trabalhos levando em consideração esse quesito, Capitã América: Soldado Invernal (2014) e Guerra Infinita, contavam com cenas de ação mais bem dirigidas, talvez o fato de ter muitos personagens em cena na derradeira batalha do longa acabou dificultando o trabalho dos irmãos, que no primeiro exemplo apontado mostraram estar mais a vontade em filmar combates um contra um e com câmera na mão, algo que não tem espaço em Ultimato. Ainda sim as cenas de ação do longa, passam longe de serem ruins, com o destaque indo para os momentos em que os heróis trabalham juntos e fazem um uso conjunto de seus poderes.
Outro ponto que diz respeito às cenas de ação é que elas dão a impressão que poderiam estar em maior quantidade e tempo no filme. Depois de duas horas com pouquíssimos momentos de ação temos uma estrondosa batalha, no que diz respeito ao número de personagens envolvidos, e que tem diversos ótimos momentos, mas que dá a impressão de que poderia ter facilmente durado mais dez ou quinze minutos. Um problema surpreendente levando em conta o gênero e a franquia como um todo.
Vingadores: Ultimato é o gran finale dos primeiros onze anos da Marvel Studios e também o ápice do fenômeno cultural que os filmes de super-herói se tornaram, talvez não esteja entre os melhores filmes do estúdio, mas ainda sim é um fim de ciclo digno e que deve satisfazer grande parte dos fãs.
NOTA: 8.2
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário