Jamais poderia ser diferente da letargia impressa por Martel, a forma com que a rotina exposta é representada. Contaminar quem acompanha com a desesperança de Zama é parte do processo - "vou lhes fazer um favor que não me fizeram, dizer não a suas esperanças" - mesmo que o preço a pagar por um breve momento seja um aborrecimento, fruto da monotonia proposital em tela, uma vez que o filme demora a se estabelecer como é de fato.
Isso acontece quando caminhos inesperados começam a se desenhar, e a diretora não guarda receios quando decide habitar terreno estranho, quase sobrenatural, sem pudores em descambar seu final em puro delírio, por exemplo.
Não se tem lindos litorais, sim rochedos que preenchem a tela claustrofobicamente e ambientes internos incomodamente espremidos. Isso muda na segunda metade, quando o filme ganha contornos mais particulares ainda.
Essa desconstrução generalizada se estende ao seu personagem, não de forma a desconstruir um mito ou investigar as entranhas de um período histórico, mas em forma de vingança, aquele ambiente, o qual foi invadido por Zama, o corrói, não o deixa mais sair - ai entra o teor institucional -, além de o manter preso, o suga cada vez mais - a ida para a estalagem às traças ilustra precisamente o estado, ele diz "só ficarei alguns dias", mas sente-se a fala carregada de desamparo.
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