Primeiramente o mar e as ondas. Lang filma suas idas e vindas diante rochedos, capturando nuances turbulentas, incontroláveis e instáveis. É o perfeito anuncio para seus personagens que estão por invadir a tela. Em sequencia, ele providencia nos introduzir no ambiente, poucos minutos de homens em seu trabalho em barcos pesqueiros são suficientes para vermos que aquilo é uma ocupação habitual, tamanha a habilidade que apresentam. Pouco a pouco a câmera vai deixando o mar e invadindo a terra junto aos homens. Esse breve início é o suficiente, Lang já nos lança a situação emocional das pessoas que iremos observar e nos introduz inteiramente no ambiente pelo qual circularam, uma pequena e humilde vila que sobrevive com base nas atividades pesqueiras.
Mas ao ficar claro que o sustento daquele lugar vem do trabalho masculino no mar, conclui-se que o filme abordará uma sociedade tradicional, onde as mulheres estarão aguardando em casa seus maridos após o cansativo dia de trabalho. A impressão é breve. Primeiramente Barbara Stanwick adentra num bar e após uma bebida demostra surpreendente indiferença a uma simpática aproximação de um conhecido, revelando logo marcas que a vivência lhe deixou. Em seguida, surge uma moça e um rapaz, fica claro que formam um casal, com o detalhe que ela é Marilyn Monroe, após uma caminhada e uma pequena discussão ela grita com personalidade que não quer ser beijada. Estamos diante de uma obra que busca a tensão entre os sexos a fim de iguala-los.
Diante dessa temática promovida, ela encontra seu ponto de partida nas relações amorosas e as experiências que elas nos trazem e a maneira como interferem na natureza de cada um a ponto de lhe tornar não mais mutável e isso reflete no paralelo que a todo o momento existe entre os personagens, de um lado aqueles que já viveram a decepção amorosa e hoje tornaram-se amargurados e nem sempre exalam o que têm realmente por dentro, como mecanismo de defesa e do outro lado aqueles que estão vislumbrados pelo amor e pela possibilidade de ser amado.
Com uma fluidez narrativa típica de Lang, o cruzamento de personagens proporciona a alternância de temas em discussão. A tensão sexual evidente cede espaço, quando o olhar torna-se mais intimista, a um jogo de sentimentos dissolvidos, porém que buscam se expressar a todo instante, revelando o interesse do filme em lhe dar com a força interior de cada um em contrapartida aos golpes que vida lhes dá, é ai que vemos a autodestruição de homens e mulheres diante do amor, que o filme trata de colocar como o mais terno e traiçoeiro dos sentimentos.
Lang encontra o porém no desfecho imposto. Em diversas ocasiões ele já esbarrara em términos indesejados, mas mesmo dessa forma driblou sempre que pode e concedeu finais ambíguos e cínicos ainda assim. Mas não foi sempre que isso se deu, Clash by Night possuiu seu desfecho acovardado, querendo ou não seu diretor. Mesmo criando mais um intenso e profundo estudo de personagens complexos e suas transformações morais e psicológicas, o final está lá, e ele contradiz toda coragem do filme diante a época em opinar sobre sexualidade, individualidade e casamento, quando no fim do emaranhado sentimental, as personagens de Monroe e Stanwick são testadas e acabam por fim retornando em núcleo familiar no qual já se encontravam, sendo lançadas a inércia arruinante, mesmo que o diretor tente driblar a situação através de sua direção precisa.
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