Não importa que o mundo seja tomado por tecnologias que sejam capazes de levar o homem ao espaço, quando falta o ar que nos sustenta, não há o que nos ajude permanentemente, as necessidades básicas se mantém, não importa para onde evoluamos, sempre as traremos conosco. Guiado por este ideal Alfonso Cuarón cria uma eficiente mistura de gêneros ambientada no espaço, onde seus personagens são submetidos a situações extremas a fim de um estudo rápido a cerca de diversos temas relativos à condição humana e sua relação com a própria existência.
Cuarón se utiliza de momentos pontuais para não deixar o espectador se perder e meio a sua narrativa justificadamente dispersa. São situações precisas que emolduram o filme, exatamente condizendo à sua proposta de passeio sobre a condição humana perante a sua situação em co-relação com a natureza grandiosa que o cerca. São momentos claramente perceptíveis. Destruição (o caos tecnológico no início), sobrevivência, renascimento – a emblemática posição fetal coreografada por Sandra Bullock, com roupas que modelam seu corpo -, a própria evolução, claramente citada na utilização quase que primitiva do extintor como propulsor suprindo a ausência de um equipamento adequado. Ainda sobra espaço para apenas citar a religião e suas diversificações. Tudo isto rumo a um final contundente e preciso.
O espaço é um ambiente eficiente por si só. Se na proposta de embarcar o espectador em um suspense ou thriller frenético onde a Dra. Stone de Bullock move-se lentamente para escapar da morte é uma fácil fonte de tensão, aquele abismo escuro para todos os lados é a própria angustia por qual passa a personagem, após um choque na sua própria vida. Cuarón lança-nos um paralelo da pessoa e do universo, onde a consciência individual se relaciona com a grandiosidade da natureza e suas possibilidades. O enorme vazio do espaço é exatamente por onde Stone flutua em sua própria existência.
A concretização da proposta é belíssima. O ser humano em contato com a natureza e se adaptando a ela, não importando onde. Ar, água, terra e sua transição através destes ambientes. A necessidade de se apegar a algo concreto para dar rumo a uma vida que não possuí sentido se for vazia, assim como o espaço. Cuarón é preciso em sua jornada em forma de espetáculo visual, é dele as imagens mais angustiantes fora do nosso planeta em alguns anos, o antecessor foi Lunar (Moon, 2009), que ainda assim não é tão profundo e grandioso como Gravidade.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário