Desde seu primeiro segundo Synonymes já abraça uma certa turbulência e uma pesada sensação de não pertencimento, com Lapid adotando uma abordagem estilística com uma câmera na mão e uma observação distante, como quem de fato estivesse soltando seu personagem em lugar estranho. E toda a passagem inicial de chegada ao apartamento é bem precisa em propor todo o estranhamento de Yoav ao ambiente e principalmente o expurgo natural que o ambiente faz a ele, o colocando nas sombras, no frio, desnudo e vulnerável e levando-o à reflexão,em tom cômico, de que certa vez havia resistido ao frio em campo de guerra e seria irônico morrer dentro de um apartamento numa rua na França devido ao mesmo frio.
O surgimento do casal francês traz certa estabilidade ao protagonista ao mesmo passo que descentraliza ambos. E Lapid faz questão de manter Yoav sempre buscando o centro do quadro, distanciando sempre os dois amantes, num movimento de necessidade extrema em pertencer ao ambiente, mas logo fica evidente suas barreiras, o fato dele adotar o sobretudo berrante, porém usar as camisas de cores neutras para apenas tapar um buraco na parede revela muito essa idéia de distaciamento natural que existe entre as culturas e a dificuldade em integrá-las. Sua arma maior aqui é nada mais que a palavra, daí seu exercício compulsivo do idioma ao mesmo tempo que nega reiteradamente falar em sua língua materna, refletindo ainda todo seu ódio por sua nação quando busca aprender ofensas em francês apenas para insultar Israel; nesse início ele ainda acredita ser o idioma sua única barreira em adaptar-se ao novo país.
Mas não custa para o passado traumático de Yoav começar a surgir e refletir em seu novo cotidiano. Uma passagem na empresa de segurança ilustra muito bem o caos pessoal que ele reprime com fracasso, quando narra em off uma de suas muitas histórias de guerra enquanto ao fundo o chefe da guarda expulsa um árabe que buscava fazer um serviço no prédio em que estão, a batalha da qual ele fugia agora é diária por outras questões. Yoav até esforça-se para se manter distante de seus traumas, mas ele está tão profundamente ligado às suas lembranças que é impossível se manter ileso, assim como jamais se separará de suas origens, ele está tão condenado à sua natureza, como ao preconceito do novo lugar.
E nesse contexto, lá pelas tantas o filme abraça uma estranheza que reflete já o estado mental de Yaov, que passa a ser confrontado com suas atitudes, fazendo-o olhar para si mesmo como covarde e fracassado na tentativa de encontrar-se ali. O que o leva a buscar provar-se por meio das medidas mais extremas, daí toda apelo carnal, em meio aos percalços da mente, o filme alcança uma fisicalidade bastante contundente e extrema. Quando Yoav finalmente fala em seu idioma justamente quando expurga todo ódio de se ver naquele lugar e, na figura do pervertido cineasta, a França pouco importa-se, vibra com seu desespero e ao fim, a mesma França, já em outra pele, lhe deixa pra fora com a porta trancada após ter lhe roubado suas histórias. Quando acaba, a única coisa que a nova nação se interessava momentaneamente era por suas memórias empolgantes e sedutoras.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário