Os filmes de John Carpenter dedicados ao terror são regados de atmosferas indestrutíveis, numa consistência, de fato, aterrorizante. Ao longo da carreira o americano fez parecer fácil criar tensão e clima constante de suspense. Mas antes de muita coisa, antes de se adentrar de vez no gênero ao qual seria reconhecido como um mestre, ele realizou um ensaio de toda essa capacidade que adquiriu ao longo dos filmes feitos. Partindo de um princípio hawkisiano, admitindo claramente sua admiração por Hawks, ele exercita seu estilo, ainda imaturo, porém de muita noção.
Assalto a 13 Distrito é aberto com uma cena não menos que impressionante e imersiva ao extremo, tamanha a quantidade de características que ela denota sobre o que veríamos a seguir. Primeiro a tensão, uma atmosfera de suspense genuína, extremamente natural, invade a tela sem avisos, desde o primeiro segundo. Junto à tensão, o elemento da surpresa súbita, a violência crua e real de Carpenter, com suspiros de Sergio Leone, surge repentinamente e o clima de insegurança se instala. E a obra não almeja muito mais que isso, na simplicidade da direção, alcança a intensidade de um estilo modesto que deseja apenas contar um historia e se preocupa com o envolvimento do espectador.
Passeando pelo exercício de cinema do diretor, somos apresentados a personagens de maneira serena, mas uma serenidade assustadora, por que enquanto vemos todo um ambiente tranquilo, algo nos da a certeza que todas aquelas pessoas que entram na historia possuem grandes chances de não acabarem bem ao fim do filme.
Uma das passagens que melhor representam o DNA do horror que há em Carpenter, vem do princípio da falsa tranquilidade, que o diretor usa genialmente, quando insere em sua trilha-sonora, uma canção infantil que é trazida por um carro de sorvete. Um som sereno, porém depois deste file não pode ser ouvido da mesma maneira.
Após deixar claro suas intenções, Carpenter joga seus personagens na mesma direção, uma delegacia praticamente abandonada, policiais, perigosos bandidos, gangues rebeldes e violentas que só desejam causar pânico nas ruas e mulheres aparentemente indefesas, que, porém pegam em armas e atiram se for preciso, são unidos por estarem a margem da violência da sociedade. Tudo é simples, um policial, dois bandidos, duas mulheres e um civil em choque, de vido a consequências do destino, acabam presos numa delegacia, cercados por um grupo de infinitos delinquentes que sem fundamentos aparentes e empenham em destruir o local. Sem perder tempo com explicações, Carpenter se direciona para condução da situação e nas atitudes de seus personagens, analisando seus comportamentos e reações sob uma mesma condição.
Apesar de muitos acertos narrativos e de uma câmera primorosa, é inegável a presença de momentos um tanto quanto ingênuos demais ao longo do tempo, principalmente quando a ação propriamente dita chega ao filme, mas é algo a se relevar, visto que a todo momento as preocupações de Carpenter são outras como aspirante a autor de um cinema único.
Ele explora o mundo caótico, onde a violência não manda recado, e inicia um tema que seria recorrente em sua obra, o isolamento grupal, permeado por desconfianças e incertezas – seria mais genial ainda anos mais tarde com sua obra-prima, The Thing (1982) – mas aqui vale como iniciação de um diretor de traço autentico e genial.
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