A crítica mais presente em relação ao longa O Refúgio, do diretor francês François Ozon é em relação ao subaproveitamento do enredo. É justo. O filme começa com um plano-sequência da paisagem noturna de Paris, a bela cidade-luz, e logo estamos num quarto onde dois jovens consomem drogas. A cena em que injetam heroína em seus corpos é lancinante. Na manhã seguinte, o rapaz já morto por overdose e a namorada em coma, são encontrados pela mãe deste.
As cores mais sombrias e o tom melancólico vão enchendo o espectador de consternação. A jovem Mousse (Isabelle Carré) acorda recuperada com a notícia sobre o namorado morto e de que está grávida. Ela está só. A mãe do falecido lhe pede que aborte, pois, na ausência do filho, não deseja seu descendente. Eis a primeira parte do filme.
A partir de então, a história se volta para o refúgio de Mousse, uma belíssima casa numa praia paradisíaca, cercada de uma luxuriante vegetação. Já se passaram alguns meses desde o sepultamento e ela, que não abortou, recebe a visita do irmão do namorado morto, Serge (Louis-Ronan Choisy), que está de passagem a caminho da Espanha.
Mousse é ríspida com o visitante. Diante de suas perguntas exige que lhe deixe em paz. Transmite a sensação de uma pessoa arredia com a vida, que busca na solidão o refúgio para o seu tormento. Como a protagonista de Nada Pessoal, filme da polonesa Urszula Antoniak.
No entanto, sem qualquer transição que justificasse uma mudança comportamental positiva, a jovem começa a agir de maneira mais complacente com Serge no dia seguinte, desvinculando-se da recepção inicial e dos questionamentos surgidos no primeiro desdobramento do encontro de ambos.
Apesar desse enredo que parece um tanto contraditório, Ozon trabalha uma variedade de questões importantes, como a humanidade dos personagens e a liberdade sexual, não se apegando a julgamentos morais ou condenações prévias de qualquer tipo.
Destacam-se, também, a belíssima fotografia e a trilha sonora.
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