"Última Parada 174" ganhou destaque ao ser indicado como o longa brasileiro nas seletivas do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009. Algo que inicialmente gerou estranheza, já que quando isso aconteceu, pouca gente sequer sabia da existência do filme - quiçá o tinha visto. Felizmente, a trama do diretor Bruno Barreto foi precocemente descartada, alvo de muitas críticas aqui no Brasil e no resto do mundo.
Baseado na fatídica tragédia do ônibus 174, no Rio de Janeiro, quando o jovem Sandro do Nascimento fez uma série de reféns e provocou um dos maiores alardes da história da TV brasileira, o filme, que também é inspirado no competente documentário "Ônibus 174", do diretor José Padilha, conta a história do acontecimento sob uma ótica distinta da que foi relatada pela imprensa de todo o mundo.
Na época, jornais, rádios e TV massificaram o acontecido e fizeram com que o caso repercutisse internacionalmente. Contando os fatos de uma forma parcial - algo reprovável - a imprensa sequer deu voz à família do jovem sequestrador - que sumiu de foco poucos meses após sua morte no carro da polícia. Depois de cair no esquecimento, no ano passado, o filme "Última Parada 174" reviveu a tragédia; dessa vez, nada de depoimentos de reféns ou policiais se desculpando pelos erros ou tiros dados ’sem querer’. Barreto traz a história de Sandro do Nascimento - aquela mesma que poucos chegaram a conhecer.
No entanto, o diretor e o roteirista, Braulio Mantovani - o mesmo de "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" -, optam por apresentar a história de Sandro também de uma forma parcial - da mesma maneira que fez a imprensa pelo lado contrário. Sendo assim, eles humanizam o jovem e tentam justificar suas atitudes pelos diversos problemas sofridos na infância. É verdade que quando garoto ele teve poucas oportunidades, o que contribuiu para ele entrar desde cedo no mundo do crime. Também é citada a passagem da covarde chacina da candelária, quando policias cariocas mataram seis menores e dois maiores no centro histórico do Rio de Janeiro - parte essa que é muito pouco aprofundada e merecia muito mais cuidado por parte dos produtores.
Mesmo com uma série de graves problemas e sem grandes perspectivas de ascenção social, nada justifica matar e promover o sofrimento de outras pessoas - como ele fez em momentos de sua trajetória. Aos defensores do comportamento do garoto, vale retratar as passagens de sua convivência com a mulher religiosa que tentou colocar um rumo em sua vida. Algumas metáforas batidas também rodeiam o longa, como quando ele parte rumo ao centro da cidade em uma espécie de barco, e, ’sem querer’, seus livros caem na água, indicando que os estúdos foram deixados para trás.
O elenco em si tem bom desempenho, especialmente de Michel Gomes e Marcelo Mello Jr., que interpretam o Sandro na fase adulta e o Alê monstro respectivamente. No mais, o filme de Bruno Barreto é burocrático e cheio de falhas. Daqui alguns anos, muita gente ainda lembrará do epísodio com o ônibus no Rio de Janeiro; contudo, a trama que tentou construír uma história verídica sob um ponto de vista diferente, será facilmente esquecida. Em pensar que esse foi o filme brasileiro que disputou as seletivas do Oscar - dessa vez o Brasil apresentou um candidato muito fraco, infelizmente.
www.moviefordummies.wordpress.com
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