Antes mesmo de estrear no cinema, "Tropa de Elite" alcançou um sucesso jamais visto anteriormente no cinema brasileiro. Muito disso se deve aos inúmeros downloads feitos por internet e a enorme quantidade de DVD’s piratas que foi sendo fabricada na medida em que o filme se tornava uma febre.
Quando chegou ao cinema - aproximadamente no final de 2007 -, a trama continuou sua saga de sucesso, o que carregou ávidos espectadores às telonas, inclusive aqueles que já o haviam visto antes em frente ao computador. Com tanto furor em torno da produção, a pergunta que fica é: Por que "Tropa de Elite" causou tanto impacto?
A princípio, podemos analisá-lo sob duas óticas distintas. A primeira seria como um mero filme policial. Pois bem, se vermos o longa única e exclusivamente pensando que aquilo é apenas um filme, apenas produto de entretenimento, sem levarmos em conta a influência que ele causa na cabeça das pessoas, com certeza será muito divertido, pois é inegável a qualidade do longa de José Padilha nesse sentido.
No entanto, se caminharmos para o lado ideológico da coisa, "Tropa de Elite" derrapa feio. Quem dirige a trama, como já foi dito, é o cineasta José Padilha, que em sua curta carreira no cinema até aqui se voltou principalmente aos problemas socias existentes no país - vide "Ônibus 174" e o mais recente "Garapa", ambos documentários. No roteiro, a mesma turminha de sempre, encabeçada por Bráulio Mantovani, também roteirista de "Cidade de Deus", "Linha de Passe" e "Última Parada 174".
Até acho louvável a abordagem de temas sociais, já que os mesmos carecem de cuidados especiais, que por muitas vezes acabam sendo esquecidos por nossas autoridades. Contudo, o problema maior está na maneira como colocam esses problemas na mesa, sempre de forma apelativa e tentando julgar quem está certo e quem está errado, como se eles fossem deuses ou os próprios donos do mundo.
"Tropa de Elite", assim como o recente e já comentado "Última Parada 174" e todos os outros que seguem essa linha, pecam na sua mensagem final. No caso específico do mega-sucesso de José Padilha, o que é transmitido para o espectador é um ódio súbito ao bandido e uma culpa duvidosa de que é o boyzinho de classe média que fincancia o tráfico de drogas. De fato, criminalidade é um tema que deve ser discutido com muita seriedade; no entanto, será que a melhor alternativa é sair matando todo mundo a torto e a direito? Muito pelo contrário! O buraco é muito mais fundo do que isso, e se faz de cego, ou simplesmente é incapaz de compreender, quem pensa que as atitudes do Capitão Nascimento são justificáveis - sinceramente eu prefiro acreditar que o diretor faça parte do grupo dos que se fazem de cegos.
É bem verdade que o personagem de Wagner Moura (muito bem interpretado, diga-se de passagem) tem seus conflitos com o tipo de vida que leva - principalmente quando está prestes a se tornar pai. Entretanto, esses conflitos são muito pouco aprofundados e acabam sendo colocados em segundo plano na trama. Nascimento, na verdade, é um comandante sanguinário que mata sem dó nem piedade, camuflado em uma máscara de herói que conquistou e acertou em cheio o público brasileiro. Afinal, quem não saiu do cinema com vontade de atirar na primeira pessoa que visse pela frente? Será que era essa mesmo a mensagem a ser passada?
"Tropa de Elite" é um bom filme policial, feito para ser visto somente como mais um dentro da indústria do entretenimento - jamais para se analisar profundamente e muito menos cultuar. O destaque vai para o bom desempenho dos atores; Wagner Moura consegue retratar muito bem o seu personagem, assim como também o fazem Caio Junqueira, André Ramiro e principalmente Fábio Lago.
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