"O Leitor" faz a linha de filmes que retratam o nazismo sob uma ótica diferenciada - algo que tem se tornado comum ultimamente na indústria cinematográfica norte-americana e mundial. No pano de fundo, saem os nazistas maléficos e terríveis e entram seres humanos, pessoas que também têm vida e demonstram sentimentos.
É interessante observar histórias sob diferentes pensamentos; logicamente é difícil encontrar algo aprofundado como "A Queda" - filme que retrata com maestria as últimas horas do ditador nazista Adolf Hitler. No entanto, obras como "O Leitor" tem a capacidade de fazer o espectador pensar e refletir sobre determinados assuntos.
A história gira em torno do caso amoroso que envolve Michael Berg (Ralph Fiennes) e Hanna Schmitz (Kate Winslet). Logo de início, vemos o personagem de Fiennes visivelmente atordoado; aos poucos, ele começa a relembrar as primeiras páginas do seu relacionamento com Hanna Schmitz. A época retrata o início da vida sexual de Michael, quando ambos, além do sexo, compartilhavam um amor pela literatura. Alguns anos após a passagem, o jovem a encontra em um julgamento sobre crimes de guerra. Hanna havia trabalhado como guarda da SS - junta militar que servia ao partido nazista - sem que ele ao menos soubesse disso.
O primeiro ato da trama é brilhante, comandado com muito talento pelo diretor Stephen Daldry - três vezes indicado ao Oscar e autor de uma das melhores obras contemporâneas: "As Horas". O que vemos inicialmente, como já disse antes, é o começo da vida sexual de Michael - conduzido pela experiente personagem de Kate Winslet - e o desejo de ambos pela literatura - sempre com o garoto lendo obras clássicas para ela.
Após a bela e erótica primeira passagem, o filme derrapa um pouco em sua sequência. Ao optar por dividir o longa em subtramas, como por exemplo o relacionamento de Michael com sua filha - que é muito pouco aprofundado pelo roteiro -, Daldry perde a chance de conseguir mais uma obra-prima em seu currículo. No entanto, "O Leitor" volta a ganhar força como um drama forte e emocionante ao nos apresentar os motivos que fazem com que Hanna esteja ali sendo acusada por uma série de assassinatos.
No final das contas, Daldry consegue mais um bom trabalho, que nos faz ir muito mais além da guerra e das ideologias nazistas. O orgulho e a inocência de Hanna impedem que todo aquele cerco seja desfeito, o que nos faz voltar naquele velho pensamento - muito mais do que torturadores sanguinários, ali haviam seres humanos, que muitas vezes executavam ordens, sem chances de decidir ou julgar pela vida ou morte de alguém.
Kate Winslet, que após bater na trave inúmeras vezes, finalmente conseguiu seu Oscar - que ao meu ver foi mais pela insistência do que pelo seu trabalho. É bem verdade que mais uma vez ela faz um bom papel, mas vejo que nesse ano haviam concorrentes que mereciam mais, como ela mesma já mereceu mais em outras oportunidades. Quem rouba a cena aqui é o jovem David Kross, que na pele do Michael mais jovem executa seu papel com brilhantismo. Para completar, Ralph Fiennes me pareceu apático e muito aquém de seus outros trabalhos.
"O Leitor" é sim um bom produto, que apesar de alguns deslizes, mais acerta do que erra. Mesmo assim, acho que a escolha para disputar o Oscar de melhor filme foi exagerada, já que para mim, haviam concorrentes melhores, como "Dúvida", da sempre brilhante Meryl Streep e "O Lutador", com o renascido Mickey Rourke.
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