Se você for ao cinema buscando um produto pura e simplesmente de entretenimento, fuja de "Katyn" o mais rápido que puder. Para quem gosta daqueles filmes recheados de aventura e passa mal só de pensar em algo mais denso e profundo, tenha certeza que o longa polonês - que infelizmente bateu na trave no Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008 - será uma grande furada.
Apenas para situar o leitor, uma breve pitada histórica: a Alemanha nazista de Adolf Hitler invadiu a Polônia durante a segunda guerra mundial. Em 1939, no entanto, foi a vez das tropas russas do sanguinário comandante Joseph Stalin invadirem o país - dessa vez pelo lado leste. A época, que foi muito conturbada para os poloneses, contou com um dos episódios mais terríveis da história da humanidade - o massacre de Katyn. Noticiado pela primeira vez em meados de 1943, milhares de soldados poloneses foram encontrados mortos pelos nazistas próximo à cidade de Smolensk. Os russos, que inicialmente foram culpados, revidaram e acusaram as tropas de Hitler pelo genocídio. Esse jogo de intrigas e culpa durou por mais de 15 anos, quando finalmente, em 1951, após a checagem de novos fatos, a atrocidade foi atribuida ao exército vermelho.
Em "Katyn", entretanto, apesar do retrato quase documental, nada é absolutamente verídico, já que os personagens usados no filme nunca existiram - foram produto da memória do diretor Andrzej Wajda, que, nascido em 1926, viveu todo o terror provocado pela Segunda Guerra Mundial. Logo de cara podemos perceber o tom pesado e atordoante com que a história é criada; a música tensa e perturbadora substitui os tons calmos e amenos da maioria das tramas que buscam suavizar os efeitos de um massacre. Aqui, Wajda faz um retrato crú e triste, que entra na cabeça do espectador de uma forma aterradora e é capaz de tirar o sono do público mais sensível. A já citada música, pesada, tensa, que martela o cinéfilo durante as quase duas horas, passa um sentimento indescritível, que transita entre repúdio e descrença na potencialidade cruel do ser humano.
O clima agoniante e inquieto pode ser um defeito para muitos, mas, como polonês, vejo que seria uma grande ofensa ao diretor abordar um tema como o Massacre de Katyn sob uma perspectiva sensível e agradável aos olhos do espectador. É bem verdade que Wajda comete alguns excessos no pseudo-documentário, já que determinadas passagens poderiam ter sido deixadas de lado, pois pouco acrescentam ao produto final. Além disso, a forma lenta e minuciosa com que a narrativa é apresentada pode ser em algum momento massante, mas é inegável a qualidade do retrato histórico exposto em "Katyn". Um ponto interessante, pouco abordado nos filmes de Hollywood, é que aqui, além de mostrar o antes do massacre e encerrar com uma bela música de fundo e meia dúzia de frases concluindo algo que todos já sabem, o diretor vai mais fundo e nos mostra também o depois, o que se sucedeu após a tragédia e as consequências nas respectivas famílias dos soldados mortos à sangue frio.
O ato final nos dá um misto de lamento, revolta e todo sentimento ruim que se possa imaginar. A cena é conduzida com brilhantismo e encerra o longa de forma primorosa, proporcionando ao espectador, no final, um minuto para refletir sobre as desgraças promovidas por nós, seres humanos. Os créditos, que sobem silenciosamente sem que haja uma melodia capaz de ilustrar tal momento, marcam um filme categórico e exemplar, que se na parte técnica tem um defeito aqui e acolá, como retrato histórico é um soco no estômago do ex-soviéticos, dos nazistas e de todos que contribuem para episódios covardes como o Massacre de Katyn.
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