O nome "Guerra ao Terror" sugere muitos tiros, pouco conteúdo e uma ideologia rasa. Num cenário hipotético, podemos imaginar os norte-americanos transbordando bondade, como sempre, e qualquer país do Oriente Médio sendo massacrado por nada.
Culpa disso, claro, é de quem traduziu "The Hurt Locker" para "Guerra ao Terror". Em inglês, "Hurt Locker" significa um período de grande sofrimento e angústia, sentimentos esses retratados no filme com primor. Em português, no entanto, o título perde todo seu significado literal, o que é lamentável.
Erros à parte, "Guerra ao Terror" traz à tona um tema interessante, pouco explorado entre o gênero. Kathryn Bigelow, diretora, e Mark Boal, roteirista, nos colocam diante de duas personalidades distintas: JT Sanborn e William James. Ambos cumprem seus últimos dias na guerra norte-americana contra o Iraque. Enquanto Sanborn está enfadado e só pensa em voltar pra casa, James é o que podemos chamar de viciado. Sim, trata-se de um viciado em guerra.
Essa pequena história pode significar pouco para alguns, mas a meu ver levanta um debate bem interessante: até que ponto a guerra vicia? Quem está no Exército, sobretudo num país como os Estados Unidos, tem que estar preparado a qualquer momento. Isso requer a ruptura quase que total dos laços afetivos. Aos poucos, deixa-se de formar um ser humano para se criar uma máquina de guerra, pronta para matar sem piedade.
O maior interesse aqui passa a ser do Estado, cegamente viciado em poder. As guerras, além de poder, rendem dinheiro através da indústria bélica e alimentam o ódio do ser humano, sentimento que se torna o principal combustível das já citadas máquinas. Percebemos, assim, que se forma um ciclo quase que inquebrável.
Talvez seja esse o maior trunfo de Kathryn Bigelow, que conseguiu profundidade num tema que geralmente é mal explorado. Além do viés ideológico, "Guerra ao Terror" também se destaca em outros aspectos. Tecnicamente o filme é perfeito. A diretora consegue impor à trama um ritmo acelerado e extremamente tenso. É praticamente impossível perder o foco ou deixar de torcer pelos protagonistas.
Falando neles, Anthony Mackie e Jeremy Renner fazem um trabalho de primeira. Renner, o viciado Sargento William James, fez por merecer a lembrança da Academia na categoria “Melhor Ator”. Destaque também para o menos conhecido Brian Geraghty, que talvez merecesse ser indicado como “Melhor Ator Coadjuvante”.
"Guerra ao Terror" é o melhor filme de guerra da última década. Seria pretensioso da minha parte compará-lo a clássicos do gênero, como "Apocalipse Now" e "Platoon", mas tenho certeza que estamos diante de um dos clássicos do futuro.
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