Fazendo a conta para dados recentes, a partir de "A Lista de Schindler" diversos filmes com a temática Segunda Guerra Mundial/Nazismo foram jogados no mercado. Alguns de ótima qualidade, outros nem tanto. O assunto sofre de tal desgaste que recentemente o cineasta Bryan Singer também resolveu fazer seu longa ambientado na época, só que com um porém: falado em ingês. Alguém deve estar se perguntando: ué, mas como um filme que fala de nazismo e é ambientado dentro dos quartéis da SS pode ser falado em inglês? Pois bem, essa dúvida ninguém sabe ao certo responder, mas é fato que o resultado até que ficou razoável.
Paul Verhoeven é holandês, experiente e com uma série de sucessos de mercado no currículo. Entre eles, o famoso "Robocop" e "Instinto Selvagem", com a sensual Sharon Stone. O cineasta, que nos últimos anos se tornou figurinha carimbada em hollywood, já dirigiu bons filmes em sua fase holandesa – um grande exemplo é o polêmico "Sem Controle". No entanto, depois de tantos anos fora do mercado europeu, poucos acreditavam que ele poderia produzir novamente um excelente filme cult. Longe de ter a capacidade de um "A Vida dos Outros", por exemplo, mas ainda assim muito bonito, bem feito e com umas sacadas bastante inteligentes (a do chocolate com a insulina, por exemplo).
O diretor volta à sua terra natal e conta a história de Rachel (Carice van Houten) , uma judia holandesa que vê sua família morrer pelos nazistas quando tentavam fugir para a Bélgica. Depois do trágico ocorrido, ela se junta à resistência holandesa contra os germânicos. O enredo ganha novos contornos quando um abastecimento de armas que chegaria para a resistência é descoberto; com isso, os membros que faziam parte do carregamento ficam sob custódia no quartel general nazista. É aí que entra a personagem de Rachel, que recebe nova identidade (Ellis de Vries) e se infiltra entre os germânicos com objetivo de seduzir o oficial maior Ludwig Müntze (Sebastian Koch).
Ao mesmo tempo em que conta uma bela história, Paul Verhoeven jamais deixa de lado sua veia hollywoodiana. O cineasta dirige suas cenas com um estilo próprio: faz um retrato de forma agitada, cheio de reviravoltas, cenas eletrizantes, fugas, tiros – tudo aquilo que as grandes massas adoram. Ainda assim, foi capaz de criar um drama competente, que se foca no sofrimento de sua personagem principal – sem nada na vida, traída, enganada… desta maneira, Verhoeven agrada a todos: aos partidários do estilo "Duro de Matar" e aos que gostam de um drama bem contado e inteligente. Além disso, faz uso da música - no melhor estilo hitchcockiano - para criar um ótimo suspense em cima do destino das personagens e dos acontecimentos subsequêntes.
Falando neles, quem rouba o longa para si é a ainda jovem holandesa Carice van Houten. A atriz tem um desempenho pungente e literalmente enche os olhos em cena. Carice aproveita a profundidade de sua personagem para executar um ótimo papel, ora transparecendo o drama de uma menina que sofre muito com a Segunda Guerra Mundial, ora sabendo usar todo o seu charme para seduzir o principal oficial nazista. A jovem ainda é bem sucedida em demonstrar seus conflitos internos, desde a perda de seus pais, até participar da resistência e se apaixonar por um inimigo.
A ausência de marketing em cima da trama fez com que ela ficasse pouco tempo em cartaz nos cinemas por aqui – uma pena. O filme se insere dentro de um gênero saturado, mas mesmo assim consegue se destacar por ter uma história muito bem contada. Talvez pudessem ter cortado um pouco do final, já que ele se estende sem muito propósito. É bem verdade que a maior parte das reviravoltas ficam para os minutos derradeiros, mas creio que elas poderiam ter sido condensadas em menos tempo. Há também alguns erros históricos por parte de Paul Verhoeven, que parece ter tomado pouco cuidado nesse quesito. Um deles, por exemplo, acontece logo após o término da guerra, quando nos é mostrado os QG’s nazistas ocupados pelos aliados – uma inverdade. Errinhos à parte, "A Espiã" é mais um belo trabalho vindo do cinema europeu. Me impressiona a regularidade vinda dos filmes de lá…
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