O velho continente é famoso por produzir filmes reflexivos, inspiradores, românticos e inteligentes. Há sempre alguma ‘bomba’ vinda de lá, mas no geral, a maioria dos trabalhos acaba rendendo bons frutos. Um desses que merece todos os elogios é "Corra, Lola, Corra", obra que mescla uma série de técnicas numa coisa só. O resultado final é interessantíssimo. Difícil acreditar que uma mistureba mixada em pouco mais de uma hora e 20 minutos poderia pintar com tanta qualidade. Méritos para Tom Tykwer e sua equipe, que com um belo roteiro e uma ótima montagem produziram um dos melhores filmes da década de 1990.
Logo de cara somos apresentados aos personagens principais. Lola é filha de banqueiro, de família desestruturada e com um namorado digamos que… encrenqueiro. Manni é um fora-da-lei e está num péssimo dia. O chefe de sua quadrilha confia a ele a quantia de 100 mil marcos. Azarado que é, o rapaz perde o dinheiro após um pequeno entrevero no metrô. Sem a grana e precisando prestar contas com o chefe, Manni planeja assaltar uma loja para sanar seu prejuízo. É meio dia e quarenta… Manni irá executar o assalto dali a quinze minutos - a menos que Lola chegue no local antes desse horário. Será que o plano vai dar certo? É mais ou menos nesse ritmo que a história é conduzida, cheia de momentos eletrizantes (daqueles de deixar o espectador completamente vidrado).
Tom Tykwer, diretor e roteirista, transforma o longa numa grande brincadeira, num enorme mundo de coincidências e acasos. Por exemplo: quando há um acidente aéreo sempre aparecem aquelas pessoas falando para os jornais em tom dramático: “nasci de novo, era pra estar naquele voo mas meu filho passou mal e tive que adiar para mais tarde”. Embora o exemplo soe pouco esclarecedor, vale dizer que Tykwer se usa desses pequenos detalhes do nosso cotidiano para montar seu enredo. O famoso “e se” é a tônica da trama (e também a sua própria mensagem). Se o Manni não tivesse pego o metrô nada teria acontecido com o dinheiro, ou teria? Se a Lola tivesse comprado a bicicleta talvez ela conseguiria evitar uma tragédia. O grande trunfo do filme é exatamente esse: lida com coisas corriqueiras do nosso cotidiano, coisas com as quais estamos bastante acostumados. Pensar nisso tudo, ainda mais após assistir a "Corra, Lola, Corra" é uma grande viagem, um exercício imaginativo fantástico e indescritível.
O roteiro inteligente é o principal trunfo da obra. Mesmo que seja inspirado em alguns clássicos, como o próprio "Um Corpo Que Cai" (há alguns elementos bem semelhantes explicados pelo próprio diretor), o trabalho de Tykwer é essencialmente original. Original por contar a mesma história diversas vezes com um final diferente, por mostrar que milésimos de segundo podem mudar uma vida inteira. Por essas e por outras eu considero "Corra, Lola, Corra" uma das obras-primas dos anos 90. Tudo tem grande sintonia: o carismático desenho que retrata Lola descendo as escadas, a trilha sonora empolgante, o desempenho do elenco… tem também a câmera manual, que é usada para retratar os momentos do pai da garota com a amante. Isso, aliás, é muito bem sacado, pois contribui para criar aquele clima pessoal, supostamente secreto.
Sobram elogios, realmente sobram. Confesso que sou suspeito para falar qualquer coisa sobre o filme… sou nada mais do que um grande fan. Sei que de vez em quando os fanáticos apelam um pouco e tendem a superestimar algo apenas comum. No entanto, o montante de prêmios vencidos pelo longa mostra que existem mais pessoas que compartilham do meu parecer. Talvez os mesmos que tenham visto em "Lola Rennt" uma viagem sensacional em torno de coisas simples do nosso cotidiano. Isso parece meio doido, é verdade, mas se até Amelie Poulain pode ser feliz vivendo a simplicidade da vida e imaginado quantas pessoas têm orgasmos pelo mundo, nós também podemos nos deleitar com o mar de casualidades que nos cerca.
www.moviefordummies.wordpress.com
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário