Quem curte o cinema norte-americano certamente irá se identificar de cara com Contágio, afinal, é bem raro nos depararmos com nomes como Matt Damon, Marion Cotillard, Kate Winslet, Gwyneth Paltrow, Jude Law, Laurence Fishburne e John Hawkes no mesmo elenco. E o melhor, essa trupe toda é dirigida pelo competente Steven Soderbergh, o mesmo que comandou a trilogia Bourne e os premiados Traffic e Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento.
Bem, mas vamos rápido ao que interessa! Logo no começo do filme somos apresentados a uma sequência de mortes enigmáticas – todas pelo mesmo motivo e em países diversos. Mais à frente, vamos descobrir que essas (e outras tantas) mortes vêm sendo causadas por um vírus geneticamente mutável e de total desconhecimento das autoridades. Basta somarmos as palavras vírus e desconhecido e nos deparamos com um panorama de caos absoluto.
Pois é! Alguém aqui se lembra de Ensaio Sobre a Cegueira? É quase impossível ignorar a semelhança entre Contágio e o best-seller do português José Saramago. Embora essas duas obras possuam temáticas diferentes, em ambas podemos observar a magnitude caótica de uma epidemia. Tanto Soderbergh quanto Saramago resgatam o extinto dos seres humanos diante da morte iminente. Neste cenário catastrófico, o homem é retratado como um animal irracional, que recorre a qualquer artifício para sobreviver sem se importar com o próximo.
Contágio ainda vai além do simples estado de caos e do extinto dos seres humanos exalando pelas ruas. A política aqui ganha fortes contornos e um tom de crítica por parte do diretor. A partir do momento em que a suposta epidemia cai na imprensa, é praticamente impossível controlar o povo – que esvazia os supermercados e abarrota as estradas em busca de sobrevivência. Enquanto as pessoas se descontrolam com a proximidade da morte, as autoridades parecem ainda mais perdidas em meio à crise. Diante disso, a pergunta que fica é: estaríamos preparados para algo devastador como o retratado pelo cineasta?
Mudando um pouco de assunto, a narrativa, que nos é apresentada numa sequência de dias, é de fato bem interessante. Tudo começa no Dia 2 e vai se desenrolando aos poucos. O grande enigma, como vocês podem perceber, está no Dia 1 e logicamente será revelado nos minutos finais. Soderbergh, por sua vez, conduz a história muito bem e abusa de recursos simples – como a música frenética e agoniante – para fisgar o espectador. A fotografia, cinzenta em alguns momentos, também contribui para deixar o filme com um ar apocalíptico.
É claro que também existem pontos negativos. A meu ver, um elenco com tantos nomes de peso merecia um pouco mais de destaque. Atores como Matt Damon, Kate Winslet e Gwyneth Paltrow têm seus momentos bons, claro, mas no geral acabam ficando em segundo plano. Também achei descartável a trama paralela envolvendo a personagem de Jude Law. Soderbergh aparentemente quis mostrar o poder que um veículo de mídia pequeno, como um blog, pode ter num momento como esses – o que é bem legal. Mas para mim, pelo menos, pareceu forçado demais.
No final das contas, Contágio me agradou bastante, principalmente por tentar se diferenciar dentro de um gênero desgastado. É comum vermos filmes apocalípticos com cenários devastados, grupos restritos de sobreviventes e só – sem nenhum conteúdo relevante. Soderbergh tentou fazer diferente e se deu bem – só por isso já merece ser aplaudido.
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