#95 - Apocalypse Now
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Um dos grandes clássicos dos filmes de guerra, Apocalypse Now está completando 40 anos e o Cineplayers aproveitou a oportunidade para fazer um podcast completo sobre ele.
Rodrigo Cunha, Bernardo Brum, Heitor Romero e Régis Trigo unem-se para responder todas as perguntas: por que o filme é tão bom? A bagunça de Coppola deu certo? Como? Quais são as passagens mais clássicas? E o diferencial para os filmes de hoje?
Simbora junto em mais um Cineplayers Cast!
SPOILERS DAS TRÊS HORAS COMPLETAS
Duração: 108 minutos
Edição: Edu Aurrai
Desculpa responder só agora. Pra mim não é paradoxo nenhum defender o novo se inspirando em águas passadas. Isso é basicamente o que o Bressane faz o tempo todo assim como, mais ou menos, em último caso, pensadores da imagem como Aby Warburg. Eu continuo discordando da primazia desse autor UNO. Ele pra mim é o ponto de partida, a base, o capitão ou o maestro, mas reconhecer essa primeira orientação não deveria implicar não reconhecer o agenciamento das outras pessoas - agenciamento que potencialmente abre outras possibilidades pro próprio capitão ou maestro. Não é uma questão de negar o diretor ou colocá-lo como insignificante. É somente uma questão de agregar, reconhecer essa dinâmica em toda a sua complexidade. Eu não consigo falar de Hiroshima mon amour e reconhecer apenas o Alain Resnais, sem lembrar da Marguerite Duras ou da Emanuèlle Riva, ou A mulher de todos sem lembrar da Helena Ignez ou Limite sem lembrar de Edgar Brasil.
E o simples fato de serem modulações diferentes de imagem entre A dama oculta e Os pássaros já indica que houve um movimento nesse meio tempo, a despeito de serem os mesmos roteiros ou as mesmas questões. E falando por mim, eu refuto um pouco a teoria francesa, mas criticar não deveria ser sinônimo de descartar. Eu posso discordar profundamente de certas coisas mas não significa que eu não tenha muito a aprender com os críticos franceses ou algo que eu possa absorver dos mesmos até para criar novas coisas, colocar tudo em movimento.
São uma das possibilidades de leitura sim, sem dúvidas. E eu não descarto o fator biográfico para a compreensão das obras. Em alguns casos realmente agrega muito e até dá outras nuances desapercebidas (tipo os signos falicos e os operários fortes e viris nos filmes do Einsenstein e o fato do cara ser homossexual). Mas pra mim não é a única possibilidade de leitura, seja porque outras agências estão em jogo, seja pelas coisas que os próprios autores não controlam plenamente. Fora a nossa perpétua capacidade de ressignificar na nossa constelação própria de referências o que nós estamos vendo/ouvindo, e o cinema aliás foi um veículo ativo disso, do Chris Marker digredindo sobre Vertigo em Sans soleil ao Fantasia da Disney que faz um ballet de hipopótamos com a Dança das horas. O simples fato de termos tantas adaptações literárias e teatrais no cinema indica esse trânsito e abertura - e o Bazin tem um texto lindo sobre adaptação da literatura no cinema.
P.S.: eu estou morrendo de calor e o meu quintal está coberto de cinzas. Eu odeio essas queimadas. Eu odeio o Bolsonaro e o seu clube.