Olga é uma aristocrata russa que no passado vivia à maneira de sua classe - festas, reuniões sociais e distanciamento total da realidade do mundo. Em uma de suas férias acaba conhecendo um jovem nobre alemão o qual se apaixona perdidamente por ela, sem no entanto ser correspondido. Ela casa-se com um russo, porém continua recebendo cartas de seu admirador e nunca as responde. Esse é o passado remoto recordado apenas por filmes caseiros, sendo explícita a dor de Olga ao ver essas imagens no contexto no qual ela se encontra: tratada como sub-humana, trancada num campo de concentração dos nazistas no qual o seu admirador germânico desempenha cargo de chefia.
O filme de Andrey Konchalovskiy (Leão de Prata de melhor direção no Festival de Veneza de 2016) vai nos mostrar como a 2a guerra mundial destruiu a vida de Olga, do nobre alemão e de um oficial da polícia francesa que trabalha para os nazistas. Através de depoimentos presentes dos personagens são resgatadas cenas de seu passado no confronto. Inicialmente o foco está no personagem do oficial francês, mostrando sem moralismos a aflição de uma família a qual é forçada pelas circunstâncias a colaborar com os inimigos nazistas e que é temente ao julgamento que a sociedade fará a eles num tempo futuro. O oficial tenta afastar de sua família os problemas vividos no seu trabalho, sendo um desses problemas lidar com uma russa a qual é acusada de esconder e salvar crianças judias. Essa russa é Olga.
Embora consiga escapar da polícia francesa, não escapa ao campo de concentração, onde acompanha de perto a rotina dos oprimidos e massacrados. A degradação humana a qual os judeus são submetidos retira deles e de seus opressores qualquer resquício de humanidade. A realidade da russa sofrerá outra inflexão quando o seu admirador alemão chega para desempenhar cargo de chefia em tal campo e descobre a presença de Olga, nomeando-a sua empregada. A partir de então ele mostra sua afetuosidade para com ela, tratando-a de maneira especial e carinhosa. Olga no entanto possui cicatrizes incuráveis que a impedem de sentir qualquer satisfação. Com o passar do tempo a derrota alemã torna-se iminente e selará o destino da russa e do seu admirador.
Todo paraíso necessita também de um inferno para existir. Os depoimentos que os três personagens dão para uma câmera frontal revelam ser a terceira parte da trinca dantesca (o purgatório) a qual salvará o destino de Olga. Um filme belissimamente construído e narrado, exceto pelo seu final: a metáfora de Dante é bela, porém é tão reforçada que perde parcela de sua riqueza. A cena final com as crianças judias é absolutamente equivocada e descolada do estilo adotado durante toda a história - um filme sóbrio e sem excessos não merecia terminar com um quadro digno da mais clichê das tramas hollywoodianas sobre o período da guerra. Um péssimo final para um bom filme, com atuação comovente de Yuliya Vysotskaya como Olga.
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