A religião católica sempre foi conhecida por ser uma doutrina rígida que pregava que o temor a Deus é a maneira mais eficaz de fazer com que os fiéis alcançassem a salvação da alma e rejeitassem os pecados do mundo.
O século 20 trouxe uma nova mentalidade não apenas para os cientistas, mas para os religiosos. As teorias de Freud, Jung e de outros psicanalisticas apresentaram novas idéias a respeito de questões que povoam a mente dos religiosos desde os primórdios das religiões; como o medo, a morte e o livre-arbitrío. Influenciados por essas novas ideias os padres e bispos começaram a desenvolver métodos de evangelização que enfatizavam o amor de Deus e o perdão, ao invés dos velhos métodos que visavam amendrontar os fiéis com a promessa, caso eles se desviassem do caminho proposto pela Igreja católica, de passarem o resto da eternidade no inferno.
Nos anos 60, vemos o padre Flynn pregar a dúvida como parte importante da experiência humana e como um meio de descobrirmos mais a respeito de nós mesmos. A diretora da escola Aloysius Beauvier, uma mulher intolerante, tradicionalista e consevadora vê nas idéias progressistas do padre Flynn uma ameaça a disciplina que ela vem conseguindo manter na escola, mesmo sob a égide de uma disciplina severa.
A chegada do primeiro aluno negro na escola, e o seu sentimento de isolamento perante os outros colegas desperta a compaixão do padre Flynn que o toma como protegido, aparentemente movido apenas por um nobre sentimento de fraternidade. Aloysius Beauvier vê na aproximação intíma do padre com o garoto a possibilídade de confirmar suas suspeitas em relação a sua conduta moral. Com base em supostas evidências a diretora passa a ter certeza da existência de um relacionamento indecente entre o jovem e o padre Flynn.
As suspeitas de Aloysius não se sustentam apenas pela sua antipatia em relação ao seu superior. Em 2004, o Relatório John Gray - um estudo encomendado pela própria Confederação de Bispos Católicos dos Eua à Faculdade de Justiça Criminal John Jay, de Nova York - chegou a conclusão que padres ordenados na década de 60 - época em que se passa o filme - cometeram 25,3 dos abusos sexuais contra crianças entre 1950 e 2002. E padre Flynn se enquadra no perfil que atualmente se tem do pédofilo: uma pessoa carismática, próxima a pessoas jovens que pode usar de sua posição de prestigio para tirar proveito de rapazes inexperientes. Em relação aos casos de pedofilia na Igreja Católica a atitude de alguns bispos na década de 60 ( e ainda nos dias de hoje) é simplesmente abafar o caso, transferindo o padre envolvido em algum escândalo sexual de uma paróquia a outra. Situação análoga a vivida pelo padre Flynn nos últimos cinco anos.
A jovem e novata irmã James se vê dividida entre as convicções de Aloysius Beauvier e padre Flynn, a primeira inspira respeito aos alunos de um modo severo mas eficaz algo que ela, com seu jeito amoroso de ser não consegue obter, já padre Flynn simboliza a compaixão e a benevolência do amor cristão que a incentivou a ser freira, mas diante das suas observações ela própria começa a desconfiar da conduta moral do padre.
A madre decide relatar suas suspeitas a mãe do menino, o que resulta no diálogo mais supreendente do filme e que valeu a atriz Viola Davis uma justa indicação ao Oscar. Apesar de ao longo do filme existir um clima de ambíguidade e de dúvidas, o roteiro se mostra mais condescendente ao padre Flynn do que a Aloysus Beauvier, retratada como uma megera armagurada. Outra ressalva ao filme é a enfâse excessiva ao conceito de dúvida, idéia que é tratada de maneira sutil e eficaz ao longo de toda obra, mas que nos minutos finais esbarra em um melodrama exagerado que destoa do restante do filme. Mas essas questões não diminuem as virtudes do filme e do roteirista, diretor e escritor de teatro John Patrick Shanley que soube adaptar a peça de sua autoria de maneira poderosa e marcante. Sem sombra de dúvida um filme que merece ser visto mais de uma vez.
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