Em Batman - O Cavaleiro das Trevas, Christopher Nolan não fez apenas mais um de super-héroi, mas um estudo sobre três tipos de hérois que aprendemos a admirar em nossa época.
Neste filme, Batman mostra-se violento, confuso e contaditório. As semelhanças com ''hérois'' comtemporâneos é mera coincidência? Sim e Não. O persongem foi criado nos Estados Unidos na longínqua década de 30, época em que o país viveu a pior crise econômica e moral de sua história, empresários bem-sucedidos foram a falência, a pressão de grupos religiosos e de defesas da moral fez com que o governo criasse a Lei seca, gerando lucros exorbitantes para a máfia, policiais e politicos corruptos.
No cinema, cria-se um novo tipo de gênero: o de gângster. Muitas histórias baseadas em fatos que saiam nos jornais da época. Por pressâo dos grupos de censura que fiscalizavam o contéudo moral dos filmes, os gângsteres chegavam ao fim das histórias mortos ou arrependidos.
Foi nesse momento da história que Batman apareceu pela primeira vez nas páginas dos quadrinhos, não tinha pena dos bandidos que enfrentava: matavá-os!
Na década de 60, os Estados Unidos enfrentaram guerras civis e externas que levaram a população a desconfiar das intenções dos seus próprios governantes e a questionar os valores morais que regiam a nação. No cinema, vemos esses conflitos em filmes como Easy Rider e Mash (este em 1970) . Porém a televisão americana parecia alheia a tudo isso, preocupada apenas em entreter o telespectador com seríes de tv fantasiosas e/ou divertidas que o fizessem se esquecer dos problemas cotidianos. Foi nesse período que o personagem violento criado por Bob Kane foi levado as telas de televisão de maneira irreverente e divertida, para a decepção de seu criador e dos fãs das histórias em quadrinhos.
Na década de 80, as Hqs de Frank Miller e Allan Moore levaram o personagem de volta as suas origens sombrias. O Batman de Tim Burton é tão peculiar quanto os outros personagens da cinematográfia do diretor, mal podendo ele se comparar com outros hérois de ação da época.
Porque tantas diferenças na caracterização de um mesmo personagem de uma época para a outra?
Batman Begins de 2005 nos deu a resposta: Bruce Wayne é um homem normal que teve que enfrentar seus medos para poder fazer o que julgava ser certo. Ao contrário de Superman que veio de outro planeta e simboliza o homem-ideal, Batman não possui um corpo indestrutível, nem esta imune as contradições morais que qualquer pessoa pode ter.
Na década de 30, Batman era um justiceiro assasino, nos anos 60, divertido e ingênuo, nos anos 80, exagerado e sombrio ao mesmo tempo, e em nossa época ele combate o crime muitas vezes agindo acima da lei que ele supostamente quer defender. Talvez a melhor definição do Batman seja dada por ele mesmo a certa altura do filme: ''Eu sou o que Gothan precisar que eu seja''.
Harvey Dent é o típico héroi norte-americano, diferente do Batman age de acordo com a leis, é firme em suas convicções, por vezes pode se mostrar inseguro e romântico. Harvey Dent é o tipo de héroi que Hollywood nós ensinou a amar.
O Coringa, teoricamente é o vilão do filme, mas poderia ser encarado como héroi em outra época da história. Nos séculos 19 e 20 alguns revolucionários socialistas, anarquistas e de grupos de esquerda em geral não hesitavam em usar táticas pouco ortodoxas como a explosão de bombas, roubo e o assassínio de politicos como meios de fazer valer suas ideias (alguns posteriormente viriam a receber o Prêmio Nobel da Paz) .
Depois da queda da União Soviética, o mundo ocidental dito civilizado pôde desfrutar de uma paz que há muito não tinha. As revoluções e táticas de guerrilha pareciam coisas do passado ou relegadas a países miseráveis que eram teorícamente incapazes de incomodar as grandes potências ocidentais.
Até que em 2001, o maior país do mundo sofreu o mais trágico ataque terrorista da história. Um nova onda de paranóia foi iniciada no mundo e o presidente dos Estados Unidos, George.W.Bush se apresentou como o héroi que eliminaria a ameaça terrorista, para isso violou direitos civis criando a prisão Guantánamo onde supostos terroristas eram torturados sem terem direito a qualquer defesa.
O Coringa é o vilão dos nossos tempos pois usa o medo e táticas terroristas para atingir seus objetivos, mas ao mesmo tempo nos identificamos com sua descrença e deboche em relação aos governos e a sociedade.
No século 19, o filósofo alemão Friedrich Nietzche escreveu: ''Quase tudo que chamamos de ''cultura superior' se baseia na espiritualização e no aprofundantamento da crueldade. Aquele''animal selvagem'' nem chegou a ser morto, vive, floresce, apenas foi divinizado''. È nisso que o Coringa acredita e em nenhum momento se desvia do seu ideal. Não é assim que os hérois agem?
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