Uma atriz que, mesmo tendo brilhado sobretudo em papéis coadjuvantes, entrou para a história de Hollywood.
Seu nome verdadeiro era Shirley Schrift e nasceu em St. Louis, estado de Illinois. Shirley quem? Talvez todos saibam de quem estamos falando se trocarmos o sobrenome para Winters. Sim, Shelley Winters, uma das duas únicas atrizes a ganhar o Oscar de melhor atriz coadjuvante (a outra é Dianne Wiest), famosa do grande público pelo seu papel no disaster-movie O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure, 1972). Morreu de insuficiência cardíaca dia 14 de janeiro de 2006, decorrente de um ataque cardíaco sofrido em outubro do ano passado, deixando uma filha, Vittoria, dois netos e o companheiro com quem vivia há algum tempo, Jerry DeFord.
Shelley Winters começou sua carreira nos anos 40 quando ela se mudou para Nova Iorque. Na Big Apple, a atriz estudou no famoso curso da Actors Studio, na época ainda dirigido por seu fundador Lee Strasberg. Logo depois, ela assinou um contrato com a Columbia Pictures, estúdio pelo qual teve uma passagem discreta. Durante esta fase, seus papéis eram quase sempre de segunda mão, muitos deles nem sequer creditados. Após umas férias do mundo dos cinemas e uma passada pela Broadway, Winters retornou à Hollywood, desta vez pelas mãos da Universal. Lá, interpretou seu primeiro personagem de importância. O filme chamava-se Fatalidade (A Double Life, 1947), de George Cukor e ela contracenava com Ronald Colman, vencedor do Oscar pela fita.
Sua reputação como atriz de talento veio com o lançamento do clássico Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun, 1951), de George Stevens. Em uma de suas melhores e mais famosas interpretações, Winters disputa com Elizabeth Taylor, o amor de Montgomery Clift. Por este papel, recebeu sua primeira indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Atriz (ficou famosa a história da premiação daquele ano, em que, segundo consta, Winters tinha tanta certeza da vitória, que, logo depois do anúncio do nome da ganhadora, inconscientemente ela se levantou da poltrona para se dirigir ao palco e receber seu prêmio, quando Vittorio Gassman, seu marido à época, percebendo a gafe, a segurou dizendo: “No Shelley, it´s Vivien...” – em tempo, a vencedora daquele ano foi Vivien Leigh, por sua atuação em Uma Rua Chamada Pecado). Mas a nomeação foi o suficiente para colocar Shelley no mapa de Hollywood.
Outros filmes importantes realizados pela atriz ao longo dos anos 50 foram Um Homem e Dez Destinos (Executive Suite, 1954), de Robert Wise; O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter, 1955), único filme dirigido por Charles Laughton; e A Grande Chantagem (The Big Knife, 1955), de Robert Aldrich.
Winters encerrou a década com chave de ouro. Ao interpretar o personagem de Mrs. Van Daan, na adaptação cinematográfica de O Diário de Anne Frank (The Diary of Anne Frank, 1959), novamente dirigida por George Stevens, a Academia se rendeu ao seu talento e lhe concedeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Junto com a fama, Shelley Winters adquiriu a reputação de ser uma mulher provocativa, de grandes envolvimentos amorosos, de falar sempre o que pensava e de ter uma opinião política sempre muito forte. Seus romances ficaram famosos e ela nunca escondeu os casos que teve com William Holden, Burt Lancastar, Marlon Brando, Clark Gable, Sean Connery, Sterling Hayden e Errol Flynn. Ela foi casada três vezes: a primeira, com o empresário Paul Meyer; a segunda, durante dois anos, com o ator italiano Vittorio Gassman (com quem teve uma filha); e a terceira, com o também ator Anthony Franciosa, com quem esteve ao longo de três anos.
Em 1962, Shelley Winters interpretou a mãe da ninfeta Lolita, no filme de mesmo nome, que Stanley Kubrick adaptou das páginas do romance de Nabokov. Para muitos críticos, essa foi a sua melhor atuação, pela qual recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante. De qualquer forma, Lolita representou um ponto de virada em sua carreira, que se tornariam mais audaciosas.
Ela ganhou seu segundo Oscar pelo belo Quando Só o Coração Vê (A Patch of Blue, 1965), de Guy Green. Ela interpretava Rose-Ann D´Arcy, a detestável mãe de uma mulher cega (Elizabeth Hartman) que se apaixona por um homem (Sidney Poitier) sem saber que ele é negro.
Ainda nos anos 60, Winters apareceu em outros produções, como por exemplo, Como Conquistar as Mulheres (Alfie, 1966), refilmado em 2004 (seu personagem Ruby, rebatizado de Liz, foi defendido por Susan Sarandon), e Harper – O Caçador de Aventuras (Harper, 1966). Nos anos 70, a atriz recebeu nova indicação ao Oscar e ganhou seu único Globo de Ouro, desta vez pela sua conhecida personagem obesa e com talentos para a natação, em O Destino do Poseidon, de Ronald Neame. Winters engordou vários quilos para o papel, os quais nunca mais perdeu.
Shelley Winters ainda teve mais quatro participações de destaque no cinema: a comédia Próxima Parada, Bairro Boêmio (Next Stop, Greenwich Village, 1975), de Paul Mazursky; o suspense O Inquilino (The Tenant, 1976), de Roman Polanski; S.O.B. (idem, 1981), de Blake Edwards, filme que ficou conhecido por ter sido o último trabalho de William Holden; e a adaptação de Henry James, Retrato de uma Dama (The Portrait of a Lady, 1996), de Jane Campion. A atriz ainda encontrou tempo para escrever duas autobiografias: Shelley: Also Know as Shirley e Shelley II: The Middle of My Century.