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Perfis

Foto de Eric Rohmer

Eric Rohmer

Idade
89 anos
Nascimento
04/04/1920
Falecimento
11/01/2010
País de nascimento
França
Local de nascimento
Nancy, Lorraine

Inteligente, refinado, livre de amarras e sutilmente provocador.

Há uma piada entre os cinéfilos franceses que diz ser todo cinéfilo um fã de Rohmer – se este indivíduo não gosta de Rohmer, ele nunca foi um cinéfilo de verdade. Pois só Eric Rohmer era capaz de fazer um filme inteiro de citações literárias, seja na história ou nos diálogos. Seus filmes eram, na verdade, um convite à discusão da filosofia, cultura, arte, sociedade e política, muito mais do que uma diversão audiovisual.

Eric Rohmer, pseudônimo de um homem que se recusou a se desvendar a seus fãs, um dos pais da Nouvelle Vague, não falou das convulsões sociais de nosso tempo, nunca entrou no terreno da cultura pop nem era adepto de modismos. De forma rara usou música nos seus quase 50 filmes, salvo se a narrativa pedisse. Parecia um homem de letras do século XIX – ele que dizia ser Diderot mais moderno que Faulkner. Foi um classicista, talvez o último do cinema, um vez que morreu aos 89 anos no último 11 de janeiro de 2010.

Dentre suas obras mais conhecidas está Minha Noite com Ela (Ma nuit chez Maud, 1969), indicado ao Oscar de melhor roteiro, em que Jean-Louis Trintignant, preso por causa do mau tempo com um viúva inteligente e liberal mais velha do que ele, namorada do seu melhor amigo, discute com ela a relação homem-mulher nesse clássico dos anos 1960. O papo fala de moral e religião, entre outras coisas, mas tem um subtexto de sedução – a sedução pela inteligência e pela força das ideias.

Minha Noite com Ela, que lançou o cineasta internacionalmente, faz parte da chamada série dos Seis Contos Morais. Tem dois médias-metragens, A Padeira do Bairro (La Boulangère de Monceau, 1963) e A Carreira de Suzanne (La Carrière de Suzanne, 1963), dois dos mais famosos de seus filmes, o maravilhoso A Colecionadora (La Collectionneuse, 1967) e O Joelho de Claire (Le Genou de Claire, 1970), além do fecho com Amor à Tarde (L’Amour l’après-midi, 1972). Em cada um dos filmes, um homem casado encontra-se envolvido com uma outra mulher e pergunta-se se vale a pena ou não trair a esposa. Pouco interessa o que vai acontecer, pois o filme discute tanto o que acontece (poucas vezes) tanto o que é só especulação.

Como os demais do núcleo central da Nouvelle Vague (Jean-Luc Godard, François Truffaut, Jacques Rivette e Claude Chabrol), Rohmer era crítico das revistas Art e Cahiers du Cinéma. Escritor e professor de literatura francesa e alemã, foi um dos primeiros a escrever, com Chabrol, um ensaio acadêmico elogiando o então considerado comercial e superficial Alfred Hithcock – ele também admirava e muito Howard Hawks. Conheceu seus companheiros nos cinemas do Quartier Latin, em Paris, e fundou, com Rivette, uma revista de cinema, chamada justamente La Revue du Cinéma, que durou apenas 5 edições.

Seu primeiro filme foi O Signo do Leão (Le Signe du Lion, 1959), que não atingiu nem de longe o sucesso alcançado pelo début de Truffaut com Os Incompreendidos ou Acossado, de Godard, de forma que Rohmer vai esperar até 1962 para lançar os dois curtas-metragens já citados e, só no final de década, em 1969, ele enfim vai conhecer a fama com Minha Noite com Ela. Soube capitalizar bem os ganhos e lançou na seqüência um de seus filmes mais provocativos, A Colecionadora, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim, com seu festival de frases dos grandes livros ditas por amantes cínicos, colecionadores de gente, profundamente cultos, nas belas praias da França.

Após os seis Contos Morais, Rohmer fez um filme de época. Por A Marquesa d’O (La Marquise d’O, 1976), triste história de uma nobre que se descobre grávida sem saber de quem e bota um anúncio no jornal para que o autor do ato se apresente (ela assim enfrentaria a ira da sociedade local), Rohmer venceu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes.

Deu início então a sua nova série de filmes (e com ela mais uma enxurrada de prêmios internacionais), dessa vez Comédias e Provérbios, recuperando autores como La Fontaine, Marmontel e Rimbaud, aproximando-se de um público mais jovem (nessa época ele já era conhecido como o Marivaux ou o Musset do cinema francês). Fazem parte da série o triângulo amoro de A Mulher do Aviador (La Femme de l’Aviateur, 1981); um de seus maiores sucessos no Brasil, Noites de Lua Cheia (Les Nuits de la Pleine Lune, 1984) – a atriz Pascale Ogier venceu o prêmio de interpretação feminina em Veneza e morreria logo depois das filmagens – e o exuberante Pauline na Praia (Pauline à la Plage, 1983), Urso de Prata em Berlim (o segundo prêmio de Rohmer no festival alemão).

Talvez o maior sucesso da série tenha sido O Raio Verde (Le Rayon Vert, 1986), grande filme que roda em torno de O Idiota, de Dostoievsky, com impactante interpretação de Marie Rivière, uma de suas atrizes-fetiche, como a mulher que não se adapta a nenhum modismo e se sente deslocada em todo ambiente que vai. Le Rayon Vert venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Assim, Rohmer faturaria os três maiores festivais de cinema da Europa (Cannes, Berlim e Veneza). No entanto, jamais pôs as mãos no César, o Oscar francês, apesar de ter sido indicado cinco vezes (como Hitchcock no Oscar…).

A próxima série, as dos Contos das Quatro Estações, que termina com o belíssimo Conto de Outono (Conte d’Automne, 1998), no qual a atriz Beatrice Roman, que sempre interpreta a incruada e solteirona nos seus filmes, atinge aqui seu ápice. Ela, já madura e viúva, tem um caso com um adolescente até encontrar o verdadeiro amor, outonal, com um também viúvo. Conto de Verão (Conte d’Eté, 1996) foi seu maior sucesso comercial na França e lança a estrela Melvil Poupaud.

Impossível não citar a experimentação tecnológica de A Inglesa e o Duque (L’Anglaise et le Duc, 2001), em que os cenários são substituídos por telas de pintores da época da Revolução Francesa. O filme, uma dura análise das conseqüências da Revolução, foi considerado reacionário por parte da crítica e causou muita polêmica pela visão nada romântica do cineasta e roteirista sobre o movimento francês.

Rohmer era recluso, quase secreto. Não permitia que revelassem o nome de sua esposa e de seus dois filhos. Seu nome verdadeiro seria Jean-Marie Maurice Schérer – Eric Rohmer seria a junção de duas homenagens, uma ao diretor e ator austríaco Erich von Stroheim e ao romancista Sax Rohmer. Publicou seu primeiro romance, Elizabeth, em 1950, com o nome de Gilbert Cordier. Nos próximos, assinou Maurice Schérer.

No seu meio século de carreira, foi inteligente e refinado, livre de amarras, sutilmente provocador e leve apenas na aparência. Adepto de um cinema cerebral, exigente, verbal e tradicionalista, era acusado pelos detratores (inúmeros) de rebarbativo, janseísta e, principalmente, entediante. Na sua defesa da cultura francesa, ele teria sido para muitos apenas um chato antiquado, sem jeito com a câmera, deitando uma falação pretensiosa e intermitente a cada cena.

O fato é que Rohmer não era nem o revolucionário em constante ebulição que é Godard nem nunca teve a mesma ambição artística desmesurada de Truffaut, o que lhe deixa de uma certa forma ainda mais próximo do classicismo. Curiosamente, nunca foi nostálgico: pelo contrário, foi moderno até o último fotograma. Nunca se queixou que o presente era pior que o passado, apesar de sua ligação com o pensamento do século XIX. Suas personagens lidavam com o sexo e amor de uma maneira natural e racional, livres.

Fugiu também da grandiosidade: seu ambiente fonte de inspiração, infatigável, inexaurível, eram bares, cafés, refeições, conversas, muitas conversas, excursões à praia e ao interior do país. Seu meio era a classe média sem nenhum glamour, ordinária e amiúde, às vezes mesquinha e mal vestida, preocupada com grandes temas que a atormenta.

Rohmer tinha sua própria produtora, Les Films du Losange, em parceria com o diretor alemão Barbet Shroeder, pela qual fez quase todos os seus filmes. O diretor provavelment não gostaria da referência, mas o presidente Nicholas Sarkozy, em nota oficial (muito bem redigida pelos seus assessores) por ocasião de sua morte, bem resumiu o artista: "Clássico e romântico, inteligente e iconoclasta, leve e sério, sentimental e moralista, Rohmer definiu um estilo que sobreviverá a ele".

Filmografia

Título Prêmios Ano Notas
Brigitte e Brigitte
Professor Schérer
1966
1956
Louis Lumière
Ele mesmo (voz)
1968
Bérénice
Aegeus
1954
Título Prêmios Ano Notas
Acho que Amo Minha Mulher
roteiro de 1972
2007
Paris Visto Por...
Roteirista
1965
1960
1956
1957
1964
Minha Noite com Ela
Roteirista
1969
1967
7,7
Amor à Tarde
Roteirista
1972
Conto de Inverno
Roteirista
1992
7,6
Conto de Verão
Roteirista
1996
8,1
1981
7,8
Raio Verde, O
roteiro
1986
7,7
Noites de Lua Cheia
Roteirista
1984
Marquesa D'O, A
roteiro
1976
Inglesa e o Duque, A
adaptação
2001
7,9
Conto da Primavera
Roteirista
1990
Conto de Outono
Roteirista
1998
8,0
1959
1987
1987
7,2
2007
1978
1993
1995
1982
1963
Padeira do Bairro, A
escrito por
1963
Agente Triplo
Roteirista
2004
Pauline na Praia
Roteirista
1983
Joelho de Claire, O
Roteirista
1970
8,0
1965
Bérénice
roteiro
1954
1958