O Terror da vida real é a guerra.
Guerra ao Terror é quase um filme do gênero terror. Vejamos o cinema dos anos 90 e de parte dos anos 2000. Recebemos várias obras de terror e suspense. Premonições, assassinos, exorcismos, crianças amaldiçoadas, espíritos...não faltaram formas de assustar e manter o público tenso. Atualmente, porém, decaíram em sucesso filmes desse gênero, por conta do uso excessivo da mesma fórmula. Hoje, porém, assistindo Guerra ao terror é possível ver um novo tipo terror sendo retratado nas telonas, o terror da vida real, sem espíritos, sem sustos, mas, ainda assim, pura tensão. Desde 11 de setembro, basicamente, esse novo nicho vem sendo trabalhado pela industria cinematográfica e alcançando certo reconhecimento com obras como: “Fahrenheit 11 de Setembro” , “Vôo 93” e “Stop-Loss: A Lei da Guerra”. A guerra é o assunto da vez, pro mal da sociedade e pro bem do cinema.
Antes mesmo de começar, Guerra ao terror já é um filme polêmico. Trazendo vastas e férteis questões acerca do homem, o filme também vem para protagonizar uma disputa surreal entre o conceito de sucesso dentro do cinema recente. Polarizando e defendendo o conteúdo no cinema de baixo orçamento, o longa entrou numa acirrada disputa com Avatar, uma revolução tecnológica bilionária. Em tempos como os de hoje, a discussão não poderia ser outra. Quem prevalece, o entretenimento ou o conteúdo? Vivemos o tempo de tecnologia a serviço da comunicação, a serviço da música, a serviço das telecomunicações, e agora também a serviço do cinema. A briga entre essas duas produções vem para construir novas tendências no modo de conceber cinema futuro, de recriar a fórmula de criar sucessos e de definir o que é sucesso. Essa questão é apenas uma questão das muitas que precedem a própria história do longa, o que demonstra um pouco do impacto que o filme dirigido por Kathryn Bigelow e brilhantemente roteirizado por Mark Boal provocou na indústria.
Depois de Vale das Sombras, estrelado por Tommy Lee Jones, esse é o melhor filme que cita a guerra do Iraque. Diferente do citado, porém, suas tramas são mais profundas por se passarem no cenário da guerra e não por falar das conseqüências posteriores a ela. Para a minha felicidade, a primeira impressão que surgiu ao acompanhar o inicio do filme foi uma constatação: a temática da guerra em si funciona e muito bem. Fruto de um entretenimento crítico, mas não menos interessante, Guerra ao Terror mostra que pensar sobre os temas que passam no jornal e na Tv não precisa ser tão chato como se pensa.
A direção que Bigelow propõe closes e movimentos de câmera na mão sucessivos, dando caráter documental a película e criando uma montagem precisa. Assim, o filme flui bem sem cair no marasmo na segunda metade, coisa que acontece com fatalmente a maioria dos filmes com temas de guerra, onde as explosões de grande magnitude têm mais importância do que as conseqüências delas. A tensão criada por Guerra ao Terror é real e refere-se a pessoas reais. Não importa apenas a bomba, não importa apenas a morte. Importa o que se faz da guerra e como se concebe a guerra. A complexidade do tema reside na própria complexidade da história da humanidade que ainda vive reflexos dos tempos conflituosos que marcaram a nossa história. Com tamanha extensão dramática não foi difícil explorar situações-limite da guerra, alcançando suas repercussões de modo sincero. O ego do macho alfa, a violência que move a guerra, o temor pela sobrevivência, a saudade que corrói os corações e o ideal do herói guerreiro que não pode voltar para vida comum são algumas das questões que envolvem os personagens de Guerra ao Terror.
Guerra ao Terror é uma droga. O filme indaga o homem e a relação com essa droga, sem julgá-lo moralmente, ainda que critique a guerra em si. Especificamente, estamos falando do ideal do “macho alfa”, que na ânsia de se auto-afirmar ou de promover a segurança da nação faz da guerra um vicio e se torna incapaz de abandoná-la. Tornar-se um “especialista” no jogo vale mais a pena do que viver e isso é chocante.
Guerra ao Terror porém também tem seus problemas. O filme não permite uma conexão emocional com os personagens, ainda que permita que estejamos em contato direto com seus dilemas, o caráter documental da filmagem também afasta o público de certa forma, é uma faca de dois gumes. Os atores cumprem seus papéis, mas não acompanham a grandiosidade da direção, o que é uma pena. O filme funciona mas não é tão marcante como poderia ter sido.
Guerra ao Terror, ainda que não seja o melhor, nem o pior filme da década, é literalmente uma bomba, explodindo a retrograda forma de explorar a temática da guerra, explodindo a passividade das pessoas diante da guerra, explodindo até mesmo o conceito e o estereotipo de cinema de baixo orçamento. Eu espero ver positivas conseqüências desse filme desse novo jeito de fazer terror na história da indústria do cinema.
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