Sutileza. Um filme urge por sutilezas e o espectador ama descobri-lás pelo caminho. Para apresentar uma reflexão num filme é preciso muita sutileza, ainda que utilizando da mais pungente violência. Desde o trabalho do diretor ou do roteirista ao optar pelas nuances narrativas ou visuais até quando opta-se pela cruência de uma dada cena. O cuidado na trasmissão da mensagem é essencial. O recente "Detenção" (2010) peca exatamente nisto. A premissa é bastante conhecida: homens comuns que precisam de dinheiro são colocados em cárcere, vivendo situações-limites que incitam a violência e o lado feroz do ser humano, forçando-os a ir de encontro ao Estado Natural ("Olho por olho e dente por dente") durante duas semanas. Caso consigam permanecer ilesos, ganham o dinheiro.
A premissa, como se pode ver, é bastante comum, mas sempre se mostra convidativa. O que preocupa, porém, é a falta de inovação e a coincidência com a cartilha seguida por muitos filmes B parecidos com este. O frescor de o "O Senhor das Moscas", por exemplo, passa longe...A discussão acalourada sobre os limites do controle e do poder é bastante rasa em "Detenção" e termina frustrando tanto o espectador em busca de uma diversão passageira como aquele que procura um bom filme independente.
A narrativa pouco fluída de "Detenção" é responsável por piorar ainda mais o quadro já apresentado. O que se salva realmente é o fascinio que a temática ainda consegue despertar, pois é natural e esperado que o espectador coloque-se no lugar dos personagens e busque exercitar sua própria auto-critica na medida em que o filme sugestiona saídas e dogmas na busca por encontrar equilibrio no relacionamento forçado entre os pacientes. Entre tantos estranhos morais a harmoria se torna muito dificil e nessa abordagem o filme se saí bem, evoluindo na medida em que a racionalidade dos personagens mingua.
O trabalho dos atores é bom, nunca ótimo, certamente por falta de direção e pelo roteiro que não contribui para o sucesso da empreitada cinematográfica. Adrien Brody, ator de várias facetas, está apenas correto ao lado do também oscarizado Forrest Whitaker, que, por outro lado, já deu demonstração maior de versatilidade, uma vez que interpretou em "Fora do Controle" uma personalidade quase oposta a apresentada neste longa. Cita-se também o bom trabalho de ambientação e caracterização dos atores assim como o trabalho de continuidade feito para retratar a passagem dos dias na prisão.
Num outro giro, há de se falar das questões morais que nunca deixam a desejar quando se trata desse tema, sempre e sempre encantam e encantarão. Até onde o homem pode ir sem partir para a lei dos mais fortes? Até onde os freios inibitórios da ética e da socialização podem segurar a fúria do animal homem? Neste sentido, destaca-se uma cena em que os prisioneiros do longa se assemelham a macacos, se pendurando nas celas e grunindo como bichos que são (?). Talvez a melhor cena do fraco longa de boas intenções que não soube se desenvolver como deveria as mais persistentes questões a respeito da natureza humana.
Passando por conclusões importantes ("Somos melhores que os macacos porque ainda temos jeito"), aos trancos, barrancos e deixando pelo caminho questões mal resolvidas (Como e por que o personagem do Forrest tornou-se um lider implacável na prisão?) ou dispensavéis (a citar a esquecivel namorada do prisioneiro 77), o longa do diretor do seriado "Prision Break" promove discussões boas, sim, mas perde na comparação com outras obras que tratam do mesmo tema. É uma pena, faltou ousadia e sobrou convencionalismo.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário