A Vida Secreta de Walter Mitty (The Secret Life of Walter Mitty) É o mais recente filme de Ben Stiler na direção, que continha anteriormente no currículo o divertidíssimo Trovão Tropical(2008) e o completo desastre Zoolander(2001). O filme também é protagonizado por Stiller, no papel de Walter Mitty.

O filme é uma refilmagem de "O homem de oito vidas", de 1947 ( que aliás não encontra-se no cineplayers) , que é inspirado no conto de James Thurber , publicado em 1939 e que logo tornou-se popular nos EUA. Walter Mitty é um sujeito que "sonha acordado", em momentos em que ele passa por um tipo de "transe", sempre imaginando como o Walter que ele almeja/sonha em ser agiria em tal situação, já que a vida do protagonista não é nenhuma grande aventura, pelo contrário , após a morte de seu pai o personagem abandonou seus sonhos e ambições para viver em uma completa rotina sem-graça trabalhando na revista Life. É também um homem muito solitário , que com o tempo tornou-se muito tímido e fechado. Sua timidez é muito bem explorada na primeira cena do filme, quando ele quase não tem coragem sequer para enviar uma solicitação de amizade para sua paixão platônica em uma rede social, uma colega de trabalho , Cheryl, interpretada por Kristen Wiig , cujo Walter claramente nunca tentou conversar pessoalmente.

Quando a Life vai fechar suas portas , cabe a Walter revelar o negativo que serviria para a última capa da revista, uma foto tão magnifica que expressaria a "quintessência da vida" , algo puro e essencial .A Propósito , a revista Life foi real e sempre se destacou por belíssimas capas. Porém Walter não encontra o negativo , e enquanto enrola Ted(Adam Scott), seu novo e chato "chefe" , uma espécie de antagonista criada para obra, ele parte em busca do fotografo Sean O'Conel( Sean Penn), em uma jornada em que Mitty deixaria apenas de sonhar e enfim vivenciar aquilo que antes só era possível em sua mente ,para encontrar o negativo e, de certa forma , encontrar a própria quintessência.

A vida secreta de Walter MItty, pela sua sinopse( e trailer , que ao contrário de todos achei perfeito), deveria ser maravilhoso para qualquer pessoa que, assim como eu , vive em devaneios, imaginando situações/realidades completamente diferentes de nossas vidas pacatas , pessoas que sempre sonharam em se aventurar. É impossível não ter esse sentimento despertado na magnífica cena ao som de "Wake Up", do Arcade Fire,enquanto Walter corre ao lado das capas da Life ou nas belíssimas sequências ao som de "Space Oddity" de David Bowie e "Dirty Paws" de Of Monsters and Men. A fotografia , os cenários e a trilha sonora são os pontos altos do filme.

Mas, infelizmente , alguns detalhes na estrutura do filme o impedem de tornar-se talvez uma obra-prima. Primeiramente está a falta de carisma de Ben Stiller. Sua atuação não é ruim, mas um personagem que em tese deveria inspirar as pessoas a realizar seus sonhos necessitava de alguém mais competente. Stiller está longe de ser inspirador. E ainda há o "vilão" completamente sem sal interpretado por Adam Scott, e romance( que mal chega a ser um romance) entre Walter e Cheryl. O interesse dela pelo personagem é estranho e explicado de forma rasa e o casal tem pouquíssima química.A odisseia de Walter não é tão fascinante quanto se espera ( Não é como um Forrest Gump, por exemplo). A exceção de algumas cenas separadas, como as que citei acima, sua jornada raramente desperta alguma atenção/emoção do público.

Entretanto, o pior defeito deste filme está em seu encerramento. Os minutos finais da película são um aglomerado de argumentos previsíveis,até chatos. A solução para um desentendimento que ocorre entre Walter e Cheryl em determinado ponto da trama e o local onde então estava o negativo são tão óbvios, que chega a ser difícil de acreditar que o roteiro se propôs a isto. Talvez houve uma falta de confiança da produção em elaborar melhores soluções, ou apenas preguiça.

No fim , o que sobra de A vida secreta de Walter MItty são algumas cenas magnificas e mensagens inspiradoras, espalhadas em meio a uma história completamente vazia e desinteressante. Um diretor com maiores ambições, um roteiro e elenco mais competentes poderiam ter tornado este algum tipo de clássico atual. De forma alguma é um filme ruim , mas também não é o filme que se promete/tinha potencial para ser. Visto que a fase de reciclagens em Hollywood está apenas começando, podemos torcer para que no futuro algum tipo de Spilberg/Zemeckis faça melhor proveito do conto de Thurber.

PS: link com o conto original em que se baseia o filme - http://ghiorzi.org/walterbr.htm