Muito se contesta sobre a qualidade das ficções científicas nos últimos anos. Afinal, há uma preocupação muito maior em investir em efeitos visuais que em desenvolver uma boa ideia ou conceito, pois garante um maior retorno.Porém, o que eu percebo é que há sim produtos de qualidade sendo lançados nesse gênero, apenas não estão mais no centro dos holofotes. Quem tem interesse pode encontrar um "Looper" ,"No Limite do Amanhã" , ou "o Predestinado", até agora a minha maior surpresa dentre os filmes que passaram despercebidos por 2014.
A produção é australiana , logo não há um orçamento farto como nos grandes blockbusters americanos. Ainda bem. Sobrou mais espaço pra se dedicar a trama. Não espere cenas de ação, e as poucas lutas corporais do filme são bem mal coreografadas ( pelo menos os diretores colocaram as lutas em locais escuros e com muitas sombras, disfarçando essas deficiências). Os efeitos de certa forma me lembraram "Mr. Nobody", no sentido que não são exuberantes, apenas suficientes. Não aparenta ser um filme muito caro, e acredito que o cinema nacional tenha orçamento para filmes desse nível ( "O homem do futuro" pode ser uma referência dessa possibilidade). Seria interessante se o Brasil tivesse filmes desse naipe, obviamente não por estes serem melhores que os nossos, apenas aumentaria a diversidade dos nossos filmes(Afinal o Brasil raramente-quase nunca-produz uma ficção científica). O elenco não tem grandes nomes , mas o desempenho é satisfatório. Provavelmente o único conhecido do público será o Ethan Hawke, mas o maior destaque é Sarah Snook, tanto na sua versão feminina quanto masculina. É um filme de poucos personagens, e você descobre que são até menos ao final da trama.
De início, o filme pode causar um desapontamento em quem assiste, já que a sinopse e os primeiros minutos indicam que esta seria uma produção onde o Agente do futuro iria viajar ao passado para impedir certos crimes de ocorrerem, e provavelmente haveria um jogo de gato-e-rato entre ele e o criminoso. Mas então a "missão" se inicia em um bar, com este Agente tendo uma conversa aparentemente despretensiosa com um cliente( sobre como este conseguira o emprego em uma revista feminina e como ele entendia tão bem a mente das mulheres...), e nada de alguma ação acontecer. E os primeiros 40 minutos de filmes se passam no mesmo cenário, com uma história paralela contada através de flashbacks.
Então chega a segunda metade do filme, com uma das mais interessantes brincadeiras já feitas com o tempo. Aí a conversa de bar começa a se conectar com o resto da trama, e não há praticamente uma linha daquele longo diálogo que não faça sentido. O ato final é um mindblow coerente e divertido, coisa que filme algum em 2014 me proporcionou ( é , Garota Exemplar teve o seu momento mindblow, mas bem menor). O que posso garantir é que se forma um paradoxo temporal no mínimo, curioso.
Compreendo as criticas feitas ao filme, a principal delas direcionada ao certo didatismo da trama em revelar os fatos no final, fazendo que a trama fique claramente explicada nos últimos minutos( apesar de ter lido muitos comentários de pessoas que não entenderam o filme ainda assim). Sinceramente , eu não sei como seria possível construir um paradoxo temporal tão complexo, e ainda deixar o filme entendível, se não fosse explicando tudo de uma forma didática. Seria necessário no mínimo um gênio por trás das câmeras pra alcançar tal objetivo, coisa que os irmãos Spierig( ainda que tenham mostrado talento) não são.
Enfim , O Predestinado é daquelas ficções onde não há foco em ação e efeitos, e sim em desenvolver uma curiosa ideia, formar um quebra-cabeça e te deixar matutando um bom tempo. É incrível saber que o filme tem apenas 90 minutos até os créditos, eles são muito bem preenchidos. Os irmãos Spierig têm a minha atenção, e quem diria que a minha maior surpresa da temporada 2014 viria do cinema Australiano.
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