Quando eu era menino, surgiu a historia de uma criança da escola, que havia voltado para casa, mas suas pernas estavam cheia de manchas rochas. Os pais imediatamente queriam saber quem fez isso com ele, mas ele simplesmente não sabia dizer por que estava daquele jeito. Revoltado pelo fato da criança não dar uma resposta que ele queria ouvir, o pai imediatamente começou a bater no seu filho para lhe arrancar a verdade, ao ponto da criança soltar um nome de um dos colegas da classe. O outro menino que foi acusado pela agressão, sofreu nas mãos dos seus pais em casa, mas ele nada havia feito, pois o outro menino havia mentido, mas porque não havia escolha no momento que estava apanhando do seu próprio pai.
Bastou uma mentira, vinda de uma situação infeliz em que a inocência foi posta contra a parede, para que esse caso se tornasse uma verdadeira bola de neve, ao ponto que não se sabia mais quem disse a verdade ou a mentira e tão pouco se soube o do porque da criança estar com as manchas rochas nas pernas. O estrago estava mais do que feito, principalmente por causa de pais incompetentes que não souberam dialogar com os seus próprios filhos. Isso tudo me meio na minha mente no momento que estava vendo o filme A Caça, onde se retrata um povo de uma cidade de bem com a vida, uns com os outros, mas que bastou um pequeno desentendimento vindo das palavras de uma confusa menina, que nutre uma paixão infantil, para que a vida do protagonista Lucas (Mads Mikkelsen, melhor ator em Cannes 2012), se torne um verdadeiro inferno. Não se pode culpar a menina Klara (Annika Wedderkopp), pelo que ela disse, pois no seu próprio lar em que vive, há sementes podres que fizeram de sua inocência se misturar com sentimentos que ela ainda está longe de compreender. Bastou ela então soltar palavras confusas para que esses adultos dessa sociedade se precipitassem.
O diretor Thomas Vinterberg (Festa de Família) criou o que se pode dizer um retrato de uma sociedade aparentemente perfeita, mas que bastou um deles ser suspeito de uma possível atrocidade, para que então eles próprios fazerem atrocidades ainda piores. Revelam-se então um povo hipócrita, que se sentem revoltados por um possível crime hediondo, mas que no fim se revelam serem seres muito piores e inconseqüentes pelos seus atos em tentar afastar o protagonista daquela cidade. Lucas por sua vez enfrenta essa tormenta de frente, mesmo sofrendo devido aos atos cruéis vindo daqueles que antes eram seus amigos (numa cena na chuva que é um verdadeiro soco no estomago), mas ao mesmo tempo segue em frente.
O ato final reserva momentos angustiantes, em que o protagonista enfrenta de frente essa sociedade hipócrita: quando ele luta para conseguir comprar com dignidade em um supermercado, ou quando ele confronta o seu melhor amigo (Thomas Bo Larsen) que é pai da menina, que no fundo acredita que ele seja inocente, mas que não consegue ainda administrar isso e tão pouco aceitar que cometeu um grave erro se precipitando. No final das contas, a bola de neve havia ficado tão gigantesca, que a trama não termina com inocentes, culpados ou tão pouco com o verdadeiro ponto de partida com relação a tudo isso que aconteceu posto em chegue. Simplesmente a sociedade hipócrita precisa seguir em frente com as suas aparências ilusórias, enquanto o protagonista tenta se encaixar novamente a esse grupo de pessoas, mas sabe no fundo, que a qualquer momento isso pode mudar. Os minutos finais sintetizam a dura realidade, de que qualquer momento ele vire novamente a caça da sua própria gente, se algo parecido acontecer novamente.
Com uma belíssima fotografia de Charlotte Bruus Cristensen, onde as cores se tornam cada vez menos acolhedoras no decorrer do filme, A Caça é uma verdadeira analise do comportamento, ato e conseqüência do homem contemporâneo e faz com que saímos do cinema cada menos esperançosos com relação ao próximo.
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