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Balanço do 52º Festival de Brasília

Desde o primeiro dia de evento, o Festival de Brasília 2019 não se furtou de promover situações incômodas, para realizadores, artistas, público e até imprensa. Na verdade, desde a escolha da equipe curatorial, que incluiu um crítico de cinema que atua exclusivamente com material em vídeo, com passagens polêmicas recentes dentro de sua área e que cobre muito pouco o cinema nacional, percebemos que o festival desse ano teria problemas desde sua gênese. A complexa captação de recursos fez murchar a lista de cobertura da imprensa, rendendo ao festival menos visibilidade.

A própria seleção, que se previa no mínimo bizarra, apresentou uma única descoberta preciosa entre longas (O Tempo Que Resta, de Thaís Borges), e escolhas altamente discutíveis e populistas, de qualidade duvidosas e moral idem, devidamente ignoradas pelo júri — um claro recado para a tentativa de popularização extrema de um festival que nunca foi experimental (como se acusou), mas que nessa edição esteve em mãos que tentaram descaracterizá-lo, em vão.

Ao longo da semana, casos como a da noite de abertura, em que um ator local foi absurdamente censurado no palco ao tentar ler uma carta de protesto contra a interrupção das políticas públicas para o audiovisual na cidade, esbarrando em clara truculência da organização, infelizmente, mancharam a edição. Por bem, a equipe de A Febre, na voz de seu produtor Leonardo Mecchi, tenou dar alguma dignidade ao episódio lendo a carta censurada na íntegra na noite da exibição de seu filme.

Na noite de apresentação do filme de Thaís Borges, um homem da equipe organizacional do festival agrediu as mulheres no palco tentando silenciá-las. Não satisfeito, ele bateu boca e xingou outras realizadoras que tentaram alertar o horror dessa situação. Isso em meio a uma seleção em que dois filmes (exatamente os dois mais problemáticos da edição) aludiam à violência contra a mulher de maneira a diminuir e/ou romantizar sua gravidade.

Um trabalho de curadoria é sempre em equipe e com certeza alguns e algumas tentaram salvar a seleção desse ano. Porém, espanta notar que exatamente o crítico citado acima que compôs a curadoria tenha publicado críticas de vários filmes da competitiva da edição, um caso inacreditável que une ausência total de noção, desserviço à área em que atuava e militância em relação a uma seleção sobre a qual ele não deveria emitir mais opinião que o seu trabalho como curador já não tenha feito.

Ao fim e ao cabo, os júris tanto de longas quanto de curtas tiveram a inteligência e a qualidade de premiar as belas produções dirigidas por mulheres majoritariamente, que foram de fato os grandes filmes de uma edição problemática, produções que falaram sobre as próprias mulheres, com sua visão de mundo e sobre suas próprias vozes, e perceberam que, assim como a imprensa no geral, também o corpo de jurados enxergaram que discursos machistas em obras inexplicáveis, ainda que "sem querer", não podem mais ser corroborados de forma alguma.

Crítica da cobertura do 52º Festival de Brasília

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