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Era Uma Vez Em... Hollywood | Kareem Abdul-Jabbar critica representação de Bruce Lee

Kareem Abdul-Jabbar, lenda do basquete e respeitado crítico racial, cultural e político, criticou Quentin Tarantino em sua coluna no site The Hollywood Reporter. Ele fez coro aos protestos de Shannon Lee sobre a forma com que Era Uma Vez Em… Hollywood retrata seu pai, o icônico Bruce Lee. Segundo ela, o artista marcial foi injustamente retratado como "um idiota arrogante e cheio de exibicionismo". Kareem foi além, dizendo que a abordagem caricata do cineasta nova-iorquino é "desleixada e racista".

"Claro que Tarantino tem o direito artístico de retratar Bruce da forma que quiser. Mas fazer isso de uma forma tão desleixada e de certa forma racista é uma falha tanto como artista como ser humano", disse Kareem, sempre ponderando suas colocações: "Assisto a cada filme de Tarantino como se fosse um evento, sabendo que sua releitura de filmes de ação dos anos 1960 e 1970 serão muito mais divertidos do que uma simples homenagem. É isso que torna as cenas de Bruce Lee tão decepcionantes, nem tanto pela base factual, mas pela falta de consciência cultural."

Abdul-Jabbar conhecia Bruce Lee. Eles contracenaram no clássico de ação Jogo da Morte  homenageado pelo próprio Tarantino em Kill Bill. Mas Kareem e Lee eram amigos. Assim, fala com propriedade sobre o astro chinês, suas preocupações e visão de como o seu povo era representado no ocidente.

"Bruce Lee foi meu amigo e professor. Isso não dá a ele um passe livre sobre como é retratado no cinema. Mas me dá algum conhecimento sobre o homem. […] Durante nossa amizade de anos, ele falou apaixonadamente sobre o quão frustado ficava com a representação estereotipada de asiáticos no cinema e na TV. Os únicos papeis eram vilões inescrupulosos ou serventes", disse, comparando esses estereótipos com o tratamento cômico, mas também simplista e ridículo de um Bruce Lee que se gaba de suas habilidades e topa uma luta com o personagem de Brad Pitt, o dublê Cliff Booth.

"Bruce era dedicado a mudar a imagem desdenhosa de asiáticos por meio de sua atuação, escrita e promoção do Jeet Kune Do, sua interpretação das artes marciais. É isso que me incomoda em Tarantino ter escolhido retratar Bruce de forma tão unidimensional. A atitude de machão à la John Wayne de Cliff (Brad Pitt), um dublê mais velho que derrota esse chinês arrogante e atrevido, ecoa os vários estereótipos que Bruce tentava desfazer. É claro que o galã americano branco e loiro pode bater naquele carinha asiático chique, pois essa porcaria estrangeira não se cria aqui", disparou o maior pontuador da história da NBA.

Quentin Tarantino se defendeu das críticas de Shannon Lee dizendo que se baseou em relatos reais ao retratar Bruce Lee de tal forma caricata. Kareem Abdul-Jabbar o contrapõe lembrando situações em que Bruce Lee foi realmente desafiado: "Estive em público com Bruce várias vezes em que algum babaca aleatório chegava desafiando Bruce em alto e bom som para uma luta. Ele sempre recusava educadamente e seguia em frente. A primeira regra do clube da luta do Bruce era não lutar - a menos que não houvesse outra opção. Ele não sentia necessidade de se provar. Ele sabia quem era e que a verdadeira luta não era sobre o tatame, era nas telas, em criar oportunidades para os asiáticos serem vistos como mais que estereótipos jocosos."



Mike Moh disse à Entertainment Weekly que ele mesmo se viu dividido ao ler o roteiro de Era Uma Vez Em... Hollywood. Mas relaxou ao aceitar que se tratava de uma ficção e da admiração de Tarantino por Bruce Lee.

"Quando li pela primeira, eu fiquei, 'Uau!'... Eu não vou dizer o que estava no roteiro original, mas, quando li, eu fiquei muito confuso, pois ele é meu herói — na minha mente, Bruce é literalmente um deus. Ele não era uma pessoa para mim, ele era um super-herói. E eu acho que é assim que a maioria das pessoas veem Bruce. E o ponto sobre isso é, esse é um filme do Tarantino. Ele não vai fazer o que todo mundo espera que outras pessoas fariam. Você precisa esperar o inesperado. E número dois: eu sempre soube que Tarantino ama Bruce Lee; ele o venera. Então, pra ser claro, o filme foi um desafio — um melhor de três. E eu anotei o primeiro ponto primeiro", disse Moh, em uma metáfora esportiva sobre pesar prós e contras e entender a ideia de Tarantino ao fazer a polêmica representação de seu ídolo.

Leonardo DiCaprio, Margot Robbie e Brad Pitt estrelam Era Uma Vez Em… Hollywood como três profissionais da sétima arte. O filme se situa no fim da década de 60 em Los Angeles, mostrando o cotidiano da meca do cinema norte-americano naquele período de efervescência e conflitos sociais e culturais às vésperas de um crime terrível: o assassinato de Sharon Tate pela gangue de Charles Manson.

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