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Morre aos 104 anos a atriz Olivia de Havilland

Olivia de Havilland, que morreu ontem aos 104 anos (!!!) por causas naturais em sua casa em Paris, era a última representante dos chamados anos de ouro de Hollywood (seja lá o que isso for). Dos artistas da velha geração que ainda estão entre nós, ninguém chega nem perto da mitologia que o seu nome carrega. Sua expressão angelical, doce e de menina ingênua era o oposto das loiras platinadas (tipo Marilyn Monroe) e femmes fatales (tipo Ava Gardner) que habitavam o imaginário masculino. Foi justamente esta fleuma quase aristocrática que a moldou para papeis que exigiam integridade, retidão e compaixão.

Durante a segunda metade dos anos 30, de Havilland formou com Errol Flynn, talvez o maior astro da época, um dos casais mais populares de Hollywood. Ao seu lado, ela estrelou alguns clássicos como Capitão Blood, A Carga da Brigada Ligeira, As Aventuras de Robin Hood e O Intrépido General Custer. Ainda que, em nome do espetáculo e do entretenimento, estes filmes não dessem muita bola pra fidelidade histórica dos eventos reais retratados nas telas, eles representavam o máximo de aventura e de escapismo que o cinema clássico americano podia oferecer naqueles anos pós-depressão.

No final da década, de Havilland atingiu de vez o pico da montanha do estrelato ao se incorporar ao elenco daquele que se tornaria o filme mais famoso do mundo: ... E O Vento Levou, e que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar. Ao contrário de 10 entre 10 atrizes do seu tempo, ela nunca se interessou pela personagem de Scarlet O’Hara. Em vez disso, seu desejo sempre foi viver o papel da serena e compreensiva Melanie Hamilton, predicados que faziam o perfeito contraponto à mimada e temperamental protagonista vivida pela Vivien Leigh.

Dos filmes em que ela esteve ao longo da década de 40, destaque para quatro deles: A Porta de Ouro, em que ela faz uma professora em viagem ao México que se envolve com o personagem de Charles Boyer (indicada ao Oscar, ela foi derrotada por sua irmã, Joan Fontaine, com quem nunca teve uma boa relação); o dramalhão Só Resta uma Lágrima, que lhe rendeu seu primeiro Oscar; Na Cova das Serpentes, em que ela vive uma mulher com problemas psíquicos; e, talvez o melhor deles, Tarde Demais, em que ela vê no romance com o jovem Montgomery Clift uma chance de se livrar do pai repressor.

Mesmo sendo um símbolo de Hollywood, de Havilland nunca se deixou levar pelo seu falso glamour, e, a partir dos anos 50, decidiu entrar numa semi-aposentadoria. Ainda apareceu em alguns papéis interessantes como Eu Te Matarei Querida, ao lado de Richard Burton, e Com a Maldade na Alma, com Bette Davis. Mas os anos de estrelato já tinham ficado deliberadamente pra trás. Pra quem realmente gosta de cinema, a morte de Olivia de Havilland (assim como a do Kirk Douglas e a do Ennio Morricone, que o vento também levou em 2020) representa uma constatação óbvia de que os nossos ídolos, que nos pareciam tão imortais na nossa adolescência, estão partindo, e, em certo sentido, nos obriga a refletir sobre a nossa própria finitude.

Se serve de (auto)consolo, sempre haverá os filmes desta grande – e agora imortal – atriz que foi Olivia de Havilland.

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